quarta-feira, 15 de junho de 2016

O SACO SEM FUNDO DO PODER JUDICIÁRIO BRASILEIRO: um órgão sem nenhum controle social, mas com mesa posta para o capital


A
té o presente momento todo o arco da opinião pública dita “progressista”, ao lado da frente popular, levando de roldão a esquerda trotsquizante (PSTU, CST, PCO, MRT, MES), tem caracterizado o sistema judiciário brasileiro como um órgão corporativista, dirigido por tucanos, distante dos reais anseios dos trabalhadores. Esta, entretanto, é uma meia verdade que não foge aos limites do senso comum e a seu “empirocriticismo” analítico. Ficam no ar as perguntas: por que o judiciário foi uma das peças mais importantes na deposição do governo Dilma através de um articulado golpe institucional? Qual o papel da famigerada “operação lava jato” no contexto da procuradoria geral da República e do STF? A raiz da compreensão vai ao fundo da necessidade de termos uma visão macro, tanto em nível econômico como no geopolítico e situa-la dentro de uma guerra não convencional declarada pelo imperialismo norte-americano há poucos anos.

STF: O DIABO MOSTRA A CAUDA DO VELHO REGIME MILITAR...

Dentro dos três poderes da União, o judiciário é aquele que menos alterações sofrera ao longo do tempo, permaneceu praticamente intocado durante e após a transição negociada da ditadura militar para o chamado “regime democrático” dirigido pelo general Golbery do Couto e Silva. Notória, neste sentido, foi a declaração do ministro do STF, Luis Roberto Barroso: “o ministro que chega ao STF só responde à sua biografia e a mais ninguém” (http://cartamaior.com.br/?/Editoria/Politica/Um-Supremo-Tribunal-da-Farsa-/4/36190).

A atuação contorcionista com fins ideológicos dos ministros do STF ilustra perfeitamente o caráter autoritário desta instituição. Por exemplo, em 2010 colocou-se contra o julgamento da revisão da Lei de Anistia, fazendo bloco com os interesses mórbidos das forças armadas que perseguiram e assassinaram centenas de ativistas que combatiam o regime militar pós-1964. Nenhum militar foi julgado... mesmo porque contaram com o beneplácito do Judiciário que endossou o AI-5 (negação de habeas corpus) e através da justiça militar colaborou diretamente com o aparato repressivo. Nos estertores da ditadura militar foi editada a Lei Complementar nº 35, criando a Lei Orgânica da Magistratura Nacional e logo depois em 98 instituiu o Conselho Nacional da Magistratura, que o STF extinguiu na após a Constituição de 88, sendo ressuscitado em 2004 com o nome de Conselho Nacional de Justiça. Porém, este é formado pelos mesmos integrantes da própria magistratura sujeita ao controle! Ou seja, é letra morta, jogo de cena formal meramente administrativo...
Fluxograma muito simplificado acerca da hierarquia das competências jurídicas no Estado
Autoriza um obscuro juiz de primeira instância federal a prender por tempo indeterminado antes mesmo de se apontar uma acusação e sem qualquer prova de delito. Juízes e procuradores dirigem processos que violam descaradamente segredos de justiça valendo-se de vazamentos seletivos à mídia oligopolista. Podem grampear a bel-prazer escritórios de advocacias que defendem os “réus”. Impõe depoimento coercitivo de pessoas que sequer estão indiciadas e sem que elas tenham antes se negado a comparecer na representação. Ministros do STF se reúnem secretamente com asquerosas figuras que articulam contra o PT e organizam “seminários” com os partidos de “oposição”. Impede que Lula assuma um ministério, mas nada fez com os do Temer, estes sim respondem a vários processos criminais (inclusive por assassinato). Confabulou para que excrescências mafiosas como Eduardo Cunha dirigisse o processo de impeachment na Câmara numa votação repleta de baixarias que envergonhou o país. Para chegar a este ponto, quase que diariamente criava novas jurisprudências, conforme os interesses burgueses e ultraneoliberais o exigiam (Fiesp, mídia corporativista, rentistas internacionais...). Os ministros do STF, principalmente Gilmar Mendes, estariam condenado pela própria Constituição pelo que reza a Lei Nº 1.079, de 10 de abril de 1950, no Artigo 39, pts 2 e 3 que define os crimes de responsabilidade e regula o respectivo processo de julgamento. (http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L1079.htm)!

... E APONTA A JUDICIALIZAÇÃO DA POLITÍCA: SINTOMA DA DECOMPOSIÇÃO DO REGIME DEMOCRÁTICO-BURGUÊS

Vale começar por um fato que não denota nenhuma coincidência, ou seja, o amplo e tentacular sistema de espionagem criado pelo imperialismo norte-americano, a NSA. Edward Snowden, em junho de 2013, colocou a público que o Brasil era um dos principais alvos, a fim de atingir a Petrobras e os documentos secretos da presidência da república. Isto em pleno zênite das relações comerciais entre os países do BRIC e num momento que os EUA começavam a sair de sua retração econômica inaugurada em 2008. As manifestações de junho de 2013 foram obra do acaso? Estas, com raras exceções (contra a copa do mundo e a criminalização dos movimentos sociais, corte de benefícios sociais) acenderam o rastilho de pólvora da deslegitimarão do sistema político, cuja expressão era o anticomunismo exacerbado, o antipartidarismo, e o suposto combate à corrupção como mote da classe média reacionária. O ovo da serpente do fascismo estava sendo chocado.

Urdido pelos estrategistas da Casa Branca inicia-se uma guerra não-convencional contra os projetos de edificação de potencias econômicas regionais, dentre elas o Brasil e os demais membros do BRIC. Tal guerra consiste em explorar as hostilidades entre os poderes políticos, atacar de frente (medidas protecionistas e intervencionismo) projetos transnacionais fora do eixo do “Consenso de Washington”. Ou seja, o objetivo é DESESTABILIZAR para impedir o desenvolvimento de potências regionais. Para tanto, fez-se jus DESLEGITIMAR O SISTEMA POLÍTICO. Como resultado deste laboratório estratégico o país mergulha numa profunda crise do regime partidário e econômico. E qual a instituição, que foge a qualquer controle social senão o Poder Judiciário, que estaria escalada para determinar os rumos do país? Claro, o STF e seus subordinados na administração federal!

DESTRUIÇÃO DO CARRO-CHEFE DA ECONOMIA BRASILEIRA

Não demorou muito, após a revelação da espionagem da NSA, para que o juiz Moro começasse sua cruzada “moralista” contra a frente popular e sua “base aliada”. A cepa jurídica coube adequadamente à operação desmonte e à guerra não-convencional. Juízes oriundos de uma elite social extremamente fiéis à sua origem oligarca; detentores de um moralismo extremo e que expressam na prática a lógica de uma formação positivista acadêmica lamentável. Conformam uma casta de “certinhos vestais” convertos em uma BUROCRACIA JURÍDICA cara e ineficaz (consome 1,2% do PIB!). Ao mesmo tempo, suas repartições federais, trabalhistas e eleitorais consomem mais de 577 milhões, fora o STF! Um verdadeiro saco sem fundo!!! O Brasil apresenta o sistema jurídico mais caro do mundo e, por consequência, completamente apartado das demais instituições e sem quem o controle. O jurista Fabio Konder Comparato foi bem categórico ao definir esta encardida burocracia que está incrustrada no judiciário: “O STF não é controlado por ninguém. Qualquer ministro pode fazer o que bem entender, pois ele não será responsabilizado. Não há nenhuma autoridade que possa impor ao STF o cumprimento da Constituição” (http://www.conversaafiada.com.br/tv-afiada/2015/07/20/comparato-bomba-o-stf-faz-o-que-bem-entende), até mesmo misturar questões penais com os administrativos relativos à condução do Estado (impediu Lula de assumir um ministério). Detém sob a forma mais gritante um poder absoluto sobre as leis brasileiras e sobre as quais exerce seu terror judicial, de classe burguesa. O critério para ser juiz do Supremo é “ter um notável saber jurídico e reputação ilibada (sic)”!
Critério básico para ser ministro do Supremo: notável saber jurídico!
 “Nossos” juízes sempre foram a fina flor dos grupos sociais dominantes, e claro, comungam seus valores, crenças e preconceitos de classe. A interpretação jurídica sempre se dá à luz dos interesses dos grandes grupos econômicos amiúde em conluio com agentes públicos. Sob a ótica conservadora agiu nos processos farsa do “mensalão” e hoje nas articulações da “lava jato”. Para se ter uma ideia, há escândalos financeiros de muito maiores envergaduras do que o da Petrobras: o “trensalão” que envolve o alto escalão do tucanato paulista está parado desde 2013 e não tem prazo para a abertura da denúncia, um roubo de quase três bilhões de reais somente nos cofres do estado de São Paulo! O escândalo de Furnas que envolve Aécio Neves arrasta-se na justiça há pelo menos dez anos; o “mensalão tucano” está a um passo de ser arquivado. Os esquemas das contas no HSBC foram esquecidos, as falcatruas feitas por grandes empresas de comunicação e também os principais bancos do país no escândalo do Carf (Operação Zelotes) sumiram da pauta dos jornalões, da PF e está sob sigilo de justiça. Sozinho o Bradesco sonegou R$ 3 bilhões; a Gerdau R$ 1,5 milhão. Grupo RBS, bancos Santander, Safra etc., Mitsubish, Marcopolo etc.ao todo causaram prejuízo ao erário público na ordem de R$ 20 bilhões!!!!

Em compensação, as “altas esferas” jurídicas deram seu aval para que a Petrobras e as empresas que nela parasitavam tivessem seus ativos destruídos. Os vazamentos seletivos da “lava jato” inviabilizaram totalmente a ampliação do já surrado refino industrial do petróleo brasileiro, o que é claramente uma demanda impositiva unilateral das grandes empresas petrolíferas mundiais. O foco da “república curitibana” está nos projetos de soberania nacional, no domínio das reservas energéticas do país, cujos respingos atingem as empreiteiras que prestam serviço à Petrobras resultando na paralisia de obras. O objetivo das transnacionais do petróleo é quebrar as reservas nacionais com a ajuda de Moro. Mas quem está pagando a conta são os milhares de trabalhadores que foram demitidos sem receber seus direitos; os donos das empreiteiras, estes gozam de milhões de dólares em paraísos fiscais e podem ficar tranquilos. Foram paralisados todos os investimentos em infraestrutura do país e o governo usurpador ameaça impor uma reforma trabalhista e previdenciária nos moldes draconianos daquela que está sendo implantada na França pelo “socialista” Hollande.

NO EPICENTRO DO ABALO INSTITUCIONAL A SUBSERVIÊNCIA DO PT E DA FRENTE POPULAR

Dirigentes petistas visam somente fazer Temer
sangrar eleitoralmente até outubro de 2018
Contudo, esta ofensiva do judiciário contra a economia do país respondendo às demandas do capital ultraneoliberal deveu-se à cumplicidade do governo Lula/Dilma com os interesses das oligarquias mais reacionárias e corruptas do país. A frente popular deu continuidade à corrupção sistemática exigida pelas demandas de mercado no regime capitalista por força do que se denomina “iniciativa privada”, tendo, portanto, um caráter histórico na formação do Estado brasileiro. Se em todas as instâncias jurídicas (de Moro ao STF) houvesse interesse em combater a corrupção o processo deveria iniciar-se nos próceres do regime militar, chegando à privataria tucana. O PT levou apenas migalhas se comparada à corrupção tucana. Mas não, o objetivo é criminalizar dirigentes petistas detonando uma onda de histeria anticomunista no país. A direita reacionária sob a efígie de Moro não abre mão de sua ofensiva através do sistema judiciário, enquanto os dirigentes do PT, a cada passo avançado pelas hordas reacionárias, assinalam inúmeros recuos políticos. O próximo passo será a prisão espetaculosa de Lula.

Precisamente por isso a postura covarde e capitulacionista da frente popular perante as ações da PF na “lava jato”, e age com total subserviência diante das afrontas de uma burguesia associada à operação de recolonização nacional pelos trustes. O PT está pagando o ônus por sua política de colaboração de classes, assinalando que este é um beco sem saída para os trabalhadores, uma arapuca para satisfazer os interesses do capital financeiro, dos rentistas de toda ordem e dos monopólios imperialistas.