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omeçaram esta semana as comemorações da “Semana Farroupilha”
em todo o Rio Grande do Sul. Nas ruas, gaúchos pilchados, desfiles de
“tropeiros” em seus cavalos, CTGs e folcloristas românticos em polvorosa; enfim,
todos absortos em seu esfuziante e desgastado “civismo regional” que reverencia
heróis do passado glorioso e seus feitos totalizantes do povo gaúcho, emblemática
e ufanisticamente venerados no hino rio-grandense: “Sirvam nossas façanhas/De
modelo a toda Terra” (https://www.letras.mus.br/hinos-de-estados/126618/).
Tantas virtudes juntas correspondem à realidade? Para o marxismo não há
categorias abstratas derivativas de si mesmas, a ciência histórica trabalha
diretamente com o que a vida e as necessidades materiais lhe fornece, quer
relativo aos indivíduos quer no âmbito coletivo. Neste sentido, caracterizar a
insurgência dos farrapos como uma revolução é redundar num tremendo equívoco,
pois o móvel da época sempre fora a guerra como principal fator de acúmulo e
povoação do extremo sul brasileiro e, ao final das beligerâncias, poucas coisas
da estrutura social e política foram alteradas. A “estância” e o militarismo
bárbaro atuaram como mecanismo de posse do território gaúcho, alimentados ainda
mais pela crise acentuada do modelo econômico brasileiro, a mineração, a
monocultura de exportação do açúcar e, mais tarde, o café. Os revoltosos farroupilhas não poderiam estar à frente de seu tempo,
expressavam antes de tudo a mentalidade da época, consubstanciada nas guerras
de conquistas, na defesa incondicional do regime escravagista, a pilhagem, o
contrabando e o roubo como fatores de acumulação de capital e renda da terra.