sábado, 19 de agosto de 2017

VENEZUELA CONTRA O IMPÉRIO: Conspirações e sabotagens contra Chávez/Maduro a serviço da Casa Branca e da indústria petrolífera


O
s recentes acontecimentos na Venezuela são decorrentes de uma conjuntura política complexa desde que o chavismo teve sua assunção no Estado, a partir de 1999 e, desde então vem sendo alvo de ataques frequentes do Departamento de Estado americano que acionou o botão vermelho de alerta para a região: rica em petróleo e praticamente no quintal dos Estados Unidos. E por esta última modalidade, a Venezuela tem se convertido em um país estratégico para os interesses do imperialismo e a sua indústria petrolífera. Ao mesmo tempo, em suas fronteiras está a Colômbia, igualmente estratégica, não por suas riquezas minerais, mas por seu papel de submissão aos interesses acima citados, em especial sob o antigo governo entreguista do narcotraficante Álvaro Uribe1. Bogotá tem sido o portal de entrada política intervencionista dos EUA, valendo-se da justificativa do “combate ao tráfico de drogas” (quando Uribe fora durante anos advogado do Cartel de Medelin e amigo íntimo de Pablo Escobar!) e perseguição fascista à guerrilha da FARC. Nestas condições, o fascismo e a direita venezuelana vão ganhando terreno sob os auspícios da CIA e os aportes da Casa Branca.

 A DEPOSIÇÃO DAS ARMAS DA FARC E O PARAMILITARISMO CRESCENTE

A Venezuela e suas fronteiras com a Colômbia (a oeste)
Não há a menor sombra de dúvida que a agudização da crise na Venezuela está intimamente relacionada à perseguição a FARC e a subsequente entrada de tropas americanas na Colômbia com a autorização de Bogotá, com os olhos voltados a pressionar o governo bolivariano Chávez/Maduro por intermédio de incursões paramilitares e crimes ao longo das fronteiras.

O “ensaio geral” das tendências fascistizantes da chamada “oposição” de direita (FedeCamara) aconteceu em abril de 2002 com o golpe de estado que depôs temporariamente o coronel Chávez após a deflagração de um lockout em nível nacional.

Doravante, de forma gradual e amiúde violenta, a ação de paramilitares mercenários a soldo do Pentágono tem sido uma constante no quesito provocações nas fronteiras, e também dentro do próprio território venezuelano. Os paramilitares invadem a Venezuela para praticar atos terroristas sob a coordenação da CIA e do Departamento de Estado ianque. Infiltrados em manifestações de massas ou em “lockouts” programados, desabastecimentos organizados pela patronal, praticam toda sorte de crimes para atacar o governo Maduro. Os empresários “opositores” chegaram, em meio à forte escassez de produtos básicos, a esconder e/ou queimar dezenas de toneladas de alimentos, provocando uma alta absurda de preço dos mesmos e filas imensas nos mercados, arguindo cinicamente responsabilidade a Maduro!

O caso mais fragrante de invasão mercenária aconteceu em 2004 quando a direita mais reacionária esteve a frente da entrada de bandidos e sabotadores (típicos sapadores de guerra) a partir do estado de Táchira, a oeste do país.

Esta operação não foi obra do acaso, mas parte do denominado “Plano Guarimba”, na qual estava inclusa a malfadada coalizão “Coordenadoria Democrática”, responsável pelo golpe em 2002. Hoje esta “coordenação” atua sob o nome de MUD (Mesa de Unidade Democrática), causadora dos inúmeros distúrbios no país.

“Guarimba” trata-se de um termo de reverência da classe média aos sabotadores terroristas, de apoio a grupos paramilitares a fim de espalhar a violência combinada com atos terroristas antibolivarianos, ataques a prédios públicos e dezenas de assassinatos feitos por franco-atiradores. Até os dias atuais prevalecem esses métodos cuja finalidade “tática” é causar o maior números de danos para fragilizar o governo Maduro e, se possível, assassiná-lo – tal como o fizeram com Chávez (envenenado pelos agentes da CIA e do Mossad).

AS GARRAS DO IMPÉRIO DILACERAM A VENEZUELA.
PLANOS E MAIS PLANOS PARA DERRUBAR GOVERNO BOLIVARIANO...

Vários “meetings” foram organizados para definir estratégias de “combate ao bolivarismo”. Um deles foi realizado com o usurpador de 2002, Pedro Carmona com Rafael Marin, da Ação Democrática para Todos, com vistas a conspirar junto com empresários do agronegócio e “sátrapas” regionais impostos pelas multinacionais petrolíferas.

Em 2004, coordenados pelo então presidente Álvaro Uribe – hoje senador – o estado de Miranda foi invadido por tropas paramilitares, causando propositalmente problemas diplomáticos e profundas baixas na população civil. Essa tentativa de golpe foi batizada de “Operação Daktari”, voltada para assassinar dirigentes do governo Chávez agindo em Caracas. Logo a opinião pública venal atribuiu as mortes a Chávez, com o claro intuito de desestabilizar o seu governo e isolá-lo nas relações internacionais através de uma grande comoção em nível mundial. Eis em que consiste a operação: “...um comandante da Guarda Nacional, tenente coronel, respondeu que era preciso usar paramilitares colombianos porque, primeiro, não eram venezuelanos, e segundo, eles não iriam olhar para trás para atirar, no iriam ter nenhum remorso na consciência, e para eles o que interessava era o pagamento, logo era mais eficiente usá-los do que usar tropas venezuelanas que iriam ter problemas de consciência, que não iriam querer atacar seus companheiros...”2.

Contudo, foi durante o governo do “Democrata” Obama que as dissenções com a Venezuela aumentaram: tornaram-se “uma ameaça à segurança nacional dos EUA e sua política externa”. Nesse tempo, assessores do ex-presidente Bush, Rudolph Giuliani (ex-presidente da Câmara de Nova Iorque) e Mary Beth Cory (ex-subsecretária de Estado e Defesa) reuniram-se em Bogotá com as forças armadas colombianas para definir resoluções militares contra as FARC e intervencionistas na Venezuela. A partir daí o contingente de tropas paramilitares ianques só aumentou, acampadas ao longo das fronteiras do país bolivariano: são mais de 2 mil soldados cercando Táchira e Zulia. Esta é a mais sólida evidência da participação direta dos EUA nos processos de conspiração contra os governos Chávez/Maduro. No vale tudo da guerra declarada, a Casa Branca acusa Maduro de “violação de direitos humanos” e desrespeito à “liberdade de imprensa”.

Documento secreto conspirativo vem à tona
Mais recente, em 2016, veio à tona um amplo documento do Comando do Sul dos Estados Unidos (controle da América Latina e do Caribe) intitulado “Venezuela Freedom-2 – Operation”3, o qual em primeiro lugar previa a desestabilização e uma queda abrupta de Nicolás Maduro. Seu método: “ações de violência, condições para conseguir substituir o governo de Maduro por um governo de transição, uma coalizão composta por dirigentes da oposição [MUD], líderes sindicais e as onipresentes ONGs”4.

No final de junho uma tentativa de golpe militar de tipo fascista foi estancada. Um general com um grupo de paramilitares (autodenominados “guerreiros de deus”, daí presume-se o caráter do bando) cujas relações com a CIA são comprovadas, bombardeou o Supremo Tribunal de Justiça. Em julho último, Antonio Ledezma (Aliança Bravo Povo – ex-prefeito de Caracas) e Leopoldo Lopez (Vontade Popular – de espectro eminentemente fascista) foram presos por Maduro, pois estavam incitando à direita e amparado pela mídia golpista, o ódio popular contra o governo. Não tardou para que Donald Trump espumasse seu ódio de classe alertando o Departamento de Estado contra a “ditadura” de Maduro e ameaçou com invasão aberta do país por parte das forças armadas. Aliás, campanha lamentavelmente assimilada e adotada pela LIT e a UIT contra a “terrível ditadura” instalada no país caribenho (“Abaixo Maduro”, “Viva o MUD”!!!!). Por esta mesma trilha percorreram a OEA e o Mercosul que romperam com o ocupante do Palácio Miraflores, acusando-o de “ditador”!!!

PETRÓLEO BARATO E RÁPIDO PARA OS AMERICANOS

A evolução do comércio petrolífero da Venezuela
O fundo nebuloso de todos os embates entre Venezuela e EUA, com a coparticipação da Colômbia, visa o controle estratégico da matriz energética do país caribenho, atualmente de certa forma sob controle estatal de Maduro. A acima referida “Venezuela Freedom” força quedas artificias do barril de petróleo no mundo, ou então diminuindo a compra do petróleo venezuelano, diminuindo drasticamente recursos para a Venezuela, o que obriga Maduro a limitar programas sociais, aprofundando a crise com as massas trabalhadoras.

Outrora, com os recursos advindos do petróleo, a Venezuela ficou conhecida mundialmente pela erradicação do analfabetismo, derivada de um sistema de ensino público em todos os níveis, proporcionalmente é o país com mais universitários do mundo em relação a sua população, milhões de moradias populares foram entregues a preços simbólicos para a população de baixa renda, aposentadoria digna e salários com aumentos significativos. Todas essas conquistas, entretanto, não foram dadas por beneplácito, mas pela luta e organização dos trabalhadores, está sendo desfeita em ruínas por ordem e intervenção direta de Washington...

O "idiota-útil" a serviço das grandes corporações
Questão que sob a égide do fascista idiota-útil (Trump), assume um ponto fulcral: o petróleo, mas não aquele que todos ingenuamente imaginam a ser destinado ao consumo usual dos proprietários de veículos automotores; mas àquele voltado para movimentar a extensa e pesada máquina de guerra imperialista, ou seja, o seu Exército, a Marinha e a Aeronáutica.

Devido à proximidade da região em torno da Venezuela, o petróleo torna-se mais barato e ágil. A extração e transporte desde o Oriente Médio demora cerca de um mês para chegar à América do Norte, enquanto o que é produzido na Venezuela pode estar disponível em torno de quatro dias! Portanto, eis a importância estratégica da Venezuela na alimentação e na “alma” do monstro imperialista! Assim, dominar este país significa maior poder de barganha econômico-militar em todo o mundo em relação ao assalto recolonizatório de todas as nações do planeta.

APESAR DAS CAPITULAÇÕES DO BOLIVARIANISMO:
AO LADO DE MADURO CONTRA AS INVESTIDAS CRIMINOSAS DO IMPERIALISMO!

Apesar da crise, Maduro conta com
amplo movimento de massas
O clima de guerra civil enfrentado pelo país somente será rompido quando as massas trabalhadoras e oprimidas venezuelanas tomarem para si os destinos da nação, construindo na prática a sua própria independência. Possível somente com o método de classe: manifestações de massas, protestos, greves operárias nas fábricas controladas pela direita golpista em ação conjunta com Maduro para derrotar o fascismo e o paramilitarismo. Ao contrário do que a mídia golpista de lá e daqui afirmam, Maduro tem forte apoio popular! Entretanto, essa luta deve correr sem apoio ou confraternização com o decadente governo bolivariano. Para todos os povos oprimidos do globo, o inimigo número um é o imperialismo, muito além de um governo burguês nacionalista!

Notas:              

1 A “lista negra” do Newswek: http://www.newsweek.com/blacklist-list-126281

2 Extraído do livro A invasão paramilitar, Operação Daktari. Luis Britto García e Miguel Pérez Pirela, Rodríguez Torres, 2012. O grifo é meu;