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ntem, 31 de
julho, adornado de adesivos que publicitavam o “Fora Temer, não ao golpe”, após
o ato contra o golpe, alguns coxinhas, “mauricebas e patricebas” desmiolados,
me abordaram na rua de forma bastante ofensiva e raivosa: “só pode ser um
petista comunista”, “vai pra Cuba”, “Marx era racista, protonazista” gritava
uma com ares de superioridade e mais um desfile de pérolas fundamentadas num
senso comum vil, típico de imbecis sem cérebro que jamais leram algo de Marx,
mas muita Veja. Eis então que um
desses elementos asqueroso estava distribuindo um “mosquito” que continha algumas
“citações” de Marx, o qual fiz questão de pegar, li apesar do asco: diz, “As
classes sociais e as raças fracas demais para conduzir as novas condições de
vida devem deixar de existir. Elas devem perecer no holocausto (sic!) revolucionário”.
O outro trecho, nauseabundo, tomado aleatoriamente afirma “que a escravidão é
uma categoria econômica como qualquer outra... esclarecendo que se trata da
escravidão direta, a dos negros do Suriname, no Brasil, nas regiões meridionais
da América do Norte... Sendo que, comparado ao resto de nós um nigger (crioulo)
é o que há de mais perto do reino animal, ele é, sem dúvida nenhuma, o
representante mais adequado para este distrito”. Sem perder tempo e paciência
deter-me-ei a comentar essas duas passagens atribuídas a Marx. Fato emblemático
ilustra quão reacionária é a etapa por que passamos em termos de regime
político. Nesse sentido, cabe nos fortalecer com a discussão ideológica
bastante sólida.
OS
FALSIFICADORES MOSTRAM SEUS DENTES
A primeira
citação trata-se de uma grotesca falsificação, segundo a qual Marx teria
proposto a exterminação das “classes sociais e raças fracas”. O artigo de Marx
adulterado é o “Forced Emigration” (https://www.marxists.org/
archive/marx/works/1853/03/04.htm): “A sociedade está passando por uma revolução silenciosa, à qual é obrigada a se submeter e que leva em conta as existências humanas que ela fragmenta tanto quanto um terremoto se importa com as casas que subverte. As classes e as raças, fracas demais para dominar as novas condições de vida, são obrigadas a ceder. Mas pode haver alguma coisa mais pueril, mais visão estreita, do que as visões daqueles economistas que acreditam com toda sinceridade que esse lastimável estado transitório não significa nada além de adaptar a sociedade às propensões aquisitivas dos capitalistas, tanto senhores de terra como senhores de dinheiro?” (grifos meus). A “revolução silenciosa” não era socialista ou comunista; era antes de tudo capitalista, que forçava as camadas sociais a se adaptarem às novas exigências econômicas. Os termos “holocausto revolucionário” e “raças fracas” são falsos, colocados maliciosamente na boca de Marx, haja vista que holocausto é um termo usualmente ligado aos massacres de judeus pelos nazistas na década de 40 do século passado!
archive/marx/works/1853/03/04.htm): “A sociedade está passando por uma revolução silenciosa, à qual é obrigada a se submeter e que leva em conta as existências humanas que ela fragmenta tanto quanto um terremoto se importa com as casas que subverte. As classes e as raças, fracas demais para dominar as novas condições de vida, são obrigadas a ceder. Mas pode haver alguma coisa mais pueril, mais visão estreita, do que as visões daqueles economistas que acreditam com toda sinceridade que esse lastimável estado transitório não significa nada além de adaptar a sociedade às propensões aquisitivas dos capitalistas, tanto senhores de terra como senhores de dinheiro?” (grifos meus). A “revolução silenciosa” não era socialista ou comunista; era antes de tudo capitalista, que forçava as camadas sociais a se adaptarem às novas exigências econômicas. Os termos “holocausto revolucionário” e “raças fracas” são falsos, colocados maliciosamente na boca de Marx, haja vista que holocausto é um termo usualmente ligado aos massacres de judeus pelos nazistas na década de 40 do século passado!
A outra
evidencia uma aberração ainda mais sacana por parte da direita, pois em cima de
um argumento verdadeiro de Marx acrescenta palavras e conceitos jamais por ele
defendidos! Na Carta de Karl Marx a Pavel
Vasilyevich Annenkov (Paris, 28/12/1846), explica: “A liberdade e a escravidão
constituem um antagonismo. Não há nenhuma necessidade para eu falar dos
aspectos bons ou maus da liberdade. Quanto à escravidão, não há nenhuma
necessidade para eu falar de seus aspectos maus. A única coisa que requer
explanação é o lado bom da escravidão. Eu não me refiro à escravidão
indireta, a escravidão do proletariado; eu refiro-me à escravidão direta, à
escravidão dos pretos no Suriname, no Brasil, nas regiões do sul da América do
Norte... A escravidão direta é tanto quanto o pivô em cima do qual nosso
industrialismo dos dias de hoje faz girar a maquinaria, o crédito, etc. Sem
escravidão não haveria nenhum algodão, sem algodão não haveria nenhuma
indústria moderna. É a escravidão que tem dado valor às colônias, foram as
colônias que criaram o comércio mundial, e o comércio mundial é a condição
necessária para a indústria de máquina em grande escala... A escravidão é consequentemente
uma categoria econômica de suprema importância. Sem escravidão, a
América do Norte, a nação a mais progressista, ter-se-ia transformado em um
país patriarcal... Mas abolir com a escravidão seria varrer a América para fora
do mapa. Sendo uma categoria econômica, a escravidão existiu em todas as nações
desde o começo do mundo. Tudo que as nações modernas conseguiram foi disfarçar
a escravidão em casa e importá-la abertamente no Novo Mundo” (grifos meus)[https://www.marxists.org/portugues/marx/1846/12/28.htm].
Aqui, Marx com toda sua ironia e sarcasmo contra os economistas burgueses, os
“filósofos e socialistas” franceses torpes como Proudhon (Filosofia da Miséria),
em sua incapacidade de compreender os processos econômicos da humanidade, explana
de forma sucinta os males que a escravatura causou ao mundo, sua preocupação,
portanto é com aqueles que acham que a escravidão foi uma coisa boa tanto para
a colônia como para a metrópole, contribuindo para “tirar o negro de sua
condição primitivista”.
HISTORIOGRAFIA
ANTICOMUNISTA A SERVIÇO DO GRANDE CAPITAL
O lado
“racista” de Marx e Engels foi difundido como truísmo a partir do artigo de um
notório pulha, Rodrigo Constantino – ex-articulista da revista esgoto Veja, jornal O Globo e Folha de S.Paulo,
discípulo assumido do “astrólogo” anticomunista Olavo de Carvalho! Como fascistas
não se interessam pela hermenêutica, copiam feito aloprados quaisquer bobagens
que campeie o solo do marxismo. O trecho “sendo que, comparado ao resto de nós,
um nigger (crioulo) é o que há de mais perto do reino animal, ele é, sem
nenhuma dúvida, o representante mais adequado para este distrito” é de autoria
exclusiva do senhor RC, cujo leitor da Veja
e O Globo assimilou em seu ódio. O
original para quem tiver estômago para ler está aqui: http://oglobo.globo.com/opiniao/imperialistas-arianos-racistas-11905014.
Corrobora com
o fervor anticomunista a difusão historiográfica, por exemplo, de um Carlos
Moore (O Marxismo e a questão racial,
2010), quem dedica sua vida a criticar o marxismo adotando uma
pseudoneutralidade em suas concepções políticas, atribuindo a Marx defensor
efervescente da supremacia branca, ou seja, de um suposto arianismo. Professa
em última instância seu ódio de classe aos militantes marxistas, combate o
socialismo através de juízos de valores e adjetivos superlativos e defende que
o conjunto da obra de Marx é imutável e universalista ao extremo. Tem se
destacado como árduo anticastrista (guzano) e como tal recebe aportes da CIA e
do USAID em suas viagens pelo mundo. Em 2014, na UERJ teria insultado em sua
honra vários militantes do PCB. Ao lado deste também aparece o livro do
americano ex-comunista Nathaniel Weyl, intitulado “Karl Marx, Racist”(1979),
notório verme apoiador do governo da minoria branca na África do Sul contra os “terroristas
comunistas”, como se referia a Mandela.
MARX
DESMISTIFICOU INCLINAÇÕES MORAIS INATAS
Na “Ideologia
Alemã”, Marx em clara evolução de seu pensamento refuta completamente as ideias
racistas que permeavam a Europa de meados do século XIX e as inclinações morais
inatas são notadamente desmistificadas: “[…] somos forçados a começar
constatando que toda a existência humana, portanto, de toda a história, é que
os homens devem estar em condições de viver para poder ‘fazer história’. Mas
para viver é preciso antes de tudo comer, beber e ter habitação, vestir-se e
algumas coisas mais. O primeiro ato histórico é, portanto, a produção dos meios
que permitam a satisfação destas necessidades, a produção da própria vida
material, e de fato este é o ato histórico, uma condição fundamental de toda a
humanidade”. Não obstante seus erros e limites, Marx e Engels eram produtos
históricos de seu tempo. A ciência não é dona de uma verdade absoluta e
irrefutável. O seu oposto seria uma religião... No capitulo 24 do Livro I do Capital, Marx usa termos fortes como
“extermínio”, “escravização” e “soterramento” para demonstrar objetivamente a
violência com que o capitalismo se expandiu para o mundo em sua origem a partir
da Europa. Eurocentrista e pró-colonialista? Aceitar isso é assumir profunda
ignorância em relação a Marx e seu parceiro Engels!
A direita esbulha
não reluta, nem tem rubores em desferir golpes baixos no cabedal
teórico-politico marxiano com ajuda de pseudointelectuais e da mídia
corporativa, desconsidera sumamente a obra intelectual do grande gênio Marx em
sua totalidade e entendida dentro do contexto temporal de seu pensamento!
Fascistas temem os argumentos, por isso querem impor a “escola sem partido”,
sem discussão...