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o dia 19 de fevereiro de 1473 nascia Nicolau Copérnico,
ninguém menos do que aquele que revolucionaria o modo de pensar humano e o modo
de fazer Ciência, um instrumento que rompesse não apenas com as verdades
absolutas como também com o senso comum da experiência empírica imediata. Seus
estudos se bateram com os mais ignorantes padres e monges da Igreja católica
partidária da metafísica aristotélica/tomista. Em questão, a rejeição da teoria
geocentrista do Universo, segundo a qual a Terra seria o centro de tudo, em
torno da qual os elementos giram. No entanto, sua obra somente fora reconhecida
às vésperas de sua morte, com a publicação do emblemático livro “De revolutionibus
orbium coelestium” (Da revolução de esferas celestes) em 1543. Afirmara que a
Terra era apenas mais um planeta que concluía uma órbita em torno de um sol
fixo todo ano e que girava em torno de seu eixo ao longo de um dia, conseguira
explicar os equinócios de forma bastante plausível, o eixo rotacional da Terra
e as estações climáticas. Muita água rolou, ou melhor, muitos equinócios houve
até chegar a estas conclusões: quase dois mil anos sob a égide doutrinária da
Igreja e dos grilhões das masmorras ou suas fogueiras de auto de fé contra os
“hereges”. Seus embates, dúvidas são exemplos a serem seguidos na época atual,
cada vez mais mergulhada no reacionarismo medieval e de retrocesso cultural e
ideológico de amplas as massas em nível planetário em pleno século XXI, quando
finalmente foram comprovadas as teses da Teoria Geral da Relatividade de
Einstein e suas ondas gravitacionais.
OS GREGOS JÁ SABIAM QUE A TERRA ERA REDONDA ANTES DA ERA
CRISTÃ
O longo caminho percorrido, permeado de espinhos e dogmas,
pelo conhecimento astronômico, avançou em meio às trevas medievais em uma árdua
luta para estabelecer a Verdade científica – e não sua imutabilidade infalível –
conduzindo para longe a obscuridade filosófica em relação à realidade que nos
permeia.
Aristarco de Samos |
A GRANDE NOITE SEM ESTRELAS SOBRE O OCIDENTE
Grande parte do Conhecimento adquirido por inúmeros povos da
antiguidade estava arquivado e organizado na Biblioteca de Alexandria. Eis que
em 349 d.C o imperador romano Teodósio ordenou a seus soldados que destruíssem este
imenso legado da Humanidade (estima-se que havia até um milhão de livros e
pergaminhos em suas estandes!) considerado “perigoso” pelos católicos não
apenas pelo dogmatismo religioso, mas também pelo fato de lá existirem fórmulas
químicas, tratados médicos, formulações sobre sexualidade desprovia de moral
cristã/ocidental, visões cosmogônicas distintas à do cristianismo etc. Começa a
partir deste crime a fechar-se o cerco sobre a ciência, condenada a um longo e
danoso período de obscuridade sob a cobertura do “casto” manto católico!
Mas a grande saga obscurantista segue seu caminho. Aos
poucos Aristóteles vai sendo absorvido, divulgado e ensinado nas Universidades
europeias imbuídas da ideologia cristã. Nisso, papel fundamental foi o de Santo
Tomas de Aquino (século XII) com sua “Suma teológica”, que cristianizou a
lógica cosmológica aristotélica em padrões aceitáveis pela Igreja e sob os
domínios da fé, das bruxas malditas, anjos e demônios...
O EDIFÍCIO ARISTOTÉLICO DA SÍNTESE CRISTÃ COMEÇA A RUIR
O mundo da ciência estava para mudar: Nicolau Copérnico
nasce em 1473. Durante 37 anos, até sua morte, dedicou-se incansavelmente ao
estudo da astronomia que o levou a elaborar um novo sistema do mundo. Criticou dura, mas elegantemente o sistema
de Ptolomeu e seus seguidores que levaram a cabo complicadíssimos modelos para
simplesmente “salvar os fenômenos” de acordo com o pensamento hegemônico
dogmático da época e, portanto, inúteis.
Cético, afirmara: “...aborreceu-me o fato de que os
filósofos que tinham estudado com tanto cuidado até as menores coisas
relacionadas com este mundo, não ofereciam nenhuma explicação certa para os
movimentos da máquina do Universo, que tinha sido construída para nós pelo
melhor e o mais perfeito dos artistas” (Prefácio – De Revolutionibus orbium
coelestium, 1543). Segue em sua assertiva: “...comecei também a pensar na
mobilidade da Terra. E, embora parecesse absurda, posto que outros antes de mim
tinham tido a liberdade de imaginar uns círculos a fim de deduzirem os
fenômenos dos astros, pensei que também a mim seria permitido procurar ver se,
ao admitir algum movimento da Terra, não seria possível encontrar um teoria
mais sólida da revolução dos orbes celestes”. Concluía então: “...que o
movimento [orbital] fosse tomado por base da revolução de cada um dos astros,
não somente se deduziriam os seus movimentos aparentes, como também a ordem e
as dimensões de todos os orbes e astros...”.
Em síntese, Copérnico concluiu ao longo de todos os anos de
estudos: os movimentos dos astros são uniformes, eternos, circulares ou uma
composição de vários círculos; o centro do universo é o Sol e não a Terra; perto
do Sol, em ordem, estão Mercúrio, Vênus, Terra, Lua, Marte, Júpiter, Saturno, e
as estrelas fixas; a Terra apresenta três movimentos: rotação diária, volta
anual, e inclinação anual de seu eixo; o movimento retrógrado dos planetas é explicado
pelo movimento da Terra; a distância da Terra ao Sol é pequena se comparada à
distância às estrelas. Evidentemente que muitas destas proposições foram mais
tarde postas à prova e contestadas, mas foram os primeiros passos de ruptura
que provocaria o desmoronamento do edifício medieval conservador.
O ANÁTEMA DOS FUNDAMENTALISTAS CRISTÃOS: UM LOUCO IDIOTA...
Como não poderia deixar de acontecer atraiu para si a ira
dos ortodoxos nas palavras de Martinho Lutero: “O louco vai virar toda a
ciência da astronomia de cabeça para baixo. Mas como declara o Livro Sagrado,
foi ao Sol e não à Terra que Josué mandou parar”. Irritava-o profundamente o
fato de Copérnico retirar o Homem do centro de todas as coisas, como
representante de Deus na Terra; agora a Terra era apenas um planeta como outro
qualquer, deslocada do centro do Universo!
Lutero: "Copérnico era um idiota" |
A obra máxima de Copérnico foi publicada no auge das
dissenções protestantes na Igreja, durante o Concílio de Trento (1545). Fora
tratado como um “astrólogo” idiota pelos luteranos: “Tem-se dado ouvido a um
astrólogo que tenta mostrar que a Terra gira, e não os Céus e o firmamento, o
Sol e a Lua... Esse estúpido quer inverter toda a ciência da Astronomia, mas a
escritura sacra nos diz (Josué 10:13 – massacre do povo de Gabaón, atual
el-Jib, noroeste de Jerusalém, pelos israelitas ou hebreus) que Josué ordenou
ao Sol que parasse e não a Terra” (in Pierre Lucie, A gênese do método
científico). Por a Terra mover-se pelos céus teria acabado com o dilema
teológico do pecado e da iniquidade do Velho Testamento e do “lugar” fixo de
Deus em seu trono! Assim, acendia uma pequena luz no horizonte epistemológico,
contra a qual cerca de 70 após a publicação do De Revolutionibus a Igreja
católica o colocaria no Index dos livros proibidos (1616), entrando na contenda
com o protestantismo, como se fosse uma disputa quem era “mais cristão”!!! O lugar da Terra no cosmo era um tema
político-ideológico e não uma discussão científica, portanto, não poderia ser
alterado, nem ceder um milímetro que fosse.
LUTA CONTRA O OBSCURANTISMO E O REACIONARISMO CRISTÃO
Copérnico, no entanto, fora produto de sua época em que os
homens da Renascença postulavam uma mistura entre o antigo e o moderno. Daí
seus erros e contradições. Contudo foi o responsável perante a História pela
preparação do caminho que conduziu à época dos iluministas do século XVII.
Lançou os primeiros alicerces da epistemologia científica, denominada “revolução
copernicana” que “deslocou” a Terra e “parou” o Sol. Durante anos Copérnico
relutou em publicar sua obra, pois temia fortes represálias, já que deslocar o
Mundo (!) era considerado crime e poderia redundar em seu assassinato. A obra
copernicana ficou enterrada no Index da Santa Sé até 1835, quando Newton já
havia exposto seu entendimento sobre a Gravidade há 151 anos, telescópios e
lunetas existiam há 167 e 226 anos respectivamente.
Engels: "Copérnico expulsou a teologia da Ciência" |
F. Engels, no Prefácio à “Dialética da Natureza” rende
homenagem a este grande cientista agigantando-o: “O ato revolucionário com que as ciências
naturais declararam sua independência e pareceram repetir a ação de Lutero
quando este queimou a bula do papa, foi a publicação da obra imortal em que
Copérnico, se bem que timidamente e, por assim dizer, em seu leito de morte,
vibrou o guante contra a autoridade da Igreja nas questões acerca da natureza.
Data de então a emancipação das ciências naturais relativamente à teologia,
embora a luta por alguns protestos recíprocos se prolongue até os nossos dias
e, em certas consciências, está muito longe ainda de ter terminado. Mas a
partir daí operou-se, a passos agigantados, o desenvolvimento da ciência, e
pode-se dizer que esse desenvolvimento se intensificou proporcionalmente ao
quadrado da distância (no tempo) que o separa de seu ponto de partida”. Disse
Engels, que Copérnico teve o mérito de “expulsar” a teologia da ciência e abrir as porteiras das veredas para a futuros cientistas: de Newton a Einstein, até a comprovação das teses das ondas gravitacionais há poucos dias divulgada. Aqui as perspectivas são infinitas, ainda mais se sob um novo modo de produção, o Socialismo.