sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

LUTA CONTRA O OBSCURANTISMO DO SÉCULO XVI Após dois mil anos Nicolau Copérnico consegue parar o Sol e movimentar a Terra! “Expulsar” a teologia da ciência!

 
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o dia 19 de fevereiro de 1473 nascia Nicolau Copérnico, ninguém menos do que aquele que revolucionaria o modo de pensar humano e o modo de fazer Ciência, um instrumento que rompesse não apenas com as verdades absolutas como também com o senso comum da experiência empírica imediata. Seus estudos se bateram com os mais ignorantes padres e monges da Igreja católica partidária da metafísica aristotélica/tomista. Em questão, a rejeição da teoria geocentrista do Universo, segundo a qual a Terra seria o centro de tudo, em torno da qual os elementos giram. No entanto, sua obra somente fora reconhecida às vésperas de sua morte, com a publicação do emblemático livro “De revolutionibus orbium coelestium” (Da revolução de esferas celestes) em 1543. Afirmara que a Terra era apenas mais um planeta que concluía uma órbita em torno de um sol fixo todo ano e que girava em torno de seu eixo ao longo de um dia, conseguira explicar os equinócios de forma bastante plausível, o eixo rotacional da Terra e as estações climáticas. Muita água rolou, ou melhor, muitos equinócios houve até chegar a estas conclusões: quase dois mil anos sob a égide doutrinária da Igreja e dos grilhões das masmorras ou suas fogueiras de auto de fé contra os “hereges”. Seus embates, dúvidas são exemplos a serem seguidos na época atual, cada vez mais mergulhada no reacionarismo medieval e de retrocesso cultural e ideológico de amplas as massas em nível planetário em pleno século XXI, quando finalmente foram comprovadas as teses da Teoria Geral da Relatividade de Einstein e suas ondas gravitacionais.

OS GREGOS JÁ SABIAM QUE A TERRA ERA REDONDA ANTES DA ERA CRISTÃ

O longo caminho percorrido, permeado de espinhos e dogmas, pelo conhecimento astronômico, avançou em meio às trevas medievais em uma árdua luta para estabelecer a Verdade científica – e não sua imutabilidade infalível – conduzindo para longe a obscuridade filosófica em relação à realidade que nos permeia.

Aristarco de Samos
Os gregos, por volta de 610 a.C, através da observação, chegaram à conclusão de que a Terra era redonda graças à dedicação incansável de Anaximandro, quem deu início à astronomia grega não vinculada à religião: a ideia do Universo ilimitado, infinito, indefinido e eterno; Demócrito, 200 anos depois havia estabelecido um sistema no qual a Via Láctea era uma reunião de estrelas. Tal pensamento era continuado em 375 a.C, Heráclides do Ponto afirmou que a Terra girava em torno de seu eixo, que Mercúrio e Vênus orbitavam o Sol; Aristarco de Samos (310 a.C) defendia com paixão que o Sol e não a Terra era o centro dos movimentos celestes! Para tanto, valeu-se de um impressionante método para a época, o “sistema de paralaxe” – comparação da órbita terrestre com uma estrela “fixa” próxima. Por isso, sofreu a ira dos tradicionalistas metafísicos aristotélicos. Não encontrou apoio e acabou caindo no esquecimento, dado o caráter eminentemente iconoclasta da sua teoria heliocentrista. Ptolomeu, que seguia Aristóteles, teve o mérito de afirmar que a Terra era esférica... – mas que o Sol girava em torno dela.

A GRANDE NOITE SEM ESTRELAS SOBRE O OCIDENTE

Grande parte do Conhecimento adquirido por inúmeros povos da antiguidade estava arquivado e organizado na Biblioteca de Alexandria. Eis que em 349 d.C o imperador romano Teodósio ordenou a seus soldados que destruíssem este imenso legado da Humanidade (estima-se que havia até um milhão de livros e pergaminhos em suas estandes!) considerado “perigoso” pelos católicos não apenas pelo dogmatismo religioso, mas também pelo fato de lá existirem fórmulas químicas, tratados médicos, formulações sobre sexualidade desprovia de moral cristã/ocidental, visões cosmogônicas distintas à do cristianismo etc. Começa a partir deste crime a fechar-se o cerco sobre a ciência, condenada a um longo e danoso período de obscuridade sob a cobertura do “casto” manto católico!

Mas a grande saga obscurantista segue seu caminho. Aos poucos Aristóteles vai sendo absorvido, divulgado e ensinado nas Universidades europeias imbuídas da ideologia cristã. Nisso, papel fundamental foi o de Santo Tomas de Aquino (século XII) com sua “Suma teológica”, que cristianizou a lógica cosmológica aristotélica em padrões aceitáveis pela Igreja e sob os domínios da fé, das bruxas malditas, anjos e demônios...

O EDIFÍCIO ARISTOTÉLICO DA SÍNTESE CRISTÃ COMEÇA A RUIR

O mundo da ciência estava para mudar: Nicolau Copérnico nasce em 1473. Durante 37 anos, até sua morte, dedicou-se incansavelmente ao estudo da astronomia que o levou a elaborar um novo sistema do mundo. Criticou dura, mas elegantemente o sistema de Ptolomeu e seus seguidores que levaram a cabo complicadíssimos modelos para simplesmente “salvar os fenômenos” de acordo com o pensamento hegemônico dogmático da época e, portanto, inúteis.

Cético, afirmara: “...aborreceu-me o fato de que os filósofos que tinham estudado com tanto cuidado até as menores coisas relacionadas com este mundo, não ofereciam nenhuma explicação certa para os movimentos da máquina do Universo, que tinha sido construída para nós pelo melhor e o mais perfeito dos artistas” (Prefácio – De Revolutionibus orbium coelestium, 1543). Segue em sua assertiva: “...comecei também a pensar na mobilidade da Terra. E, embora parecesse absurda, posto que outros antes de mim tinham tido a liberdade de imaginar uns círculos a fim de deduzirem os fenômenos dos astros, pensei que também a mim seria permitido procurar ver se, ao admitir algum movimento da Terra, não seria possível encontrar um teoria mais sólida da revolução dos orbes celestes”. Concluía então: “...que o movimento [orbital] fosse tomado por base da revolução de cada um dos astros, não somente se deduziriam os seus movimentos aparentes, como também a ordem e as dimensões de todos os orbes e astros...”.

Em síntese, Copérnico concluiu ao longo de todos os anos de estudos: os movimentos dos astros são uniformes, eternos, circulares ou uma composição de vários círculos; o centro do universo é o Sol e não a Terra; perto do Sol, em ordem, estão Mercúrio, Vênus, Terra, Lua, Marte, Júpiter, Saturno, e as estrelas fixas; a Terra apresenta três movimentos: rotação diária, volta anual, e inclinação anual de seu eixo; o movimento retrógrado dos planetas é explicado pelo movimento da Terra; a distância da Terra ao Sol é pequena se comparada à distância às estrelas. Evidentemente que muitas destas proposições foram mais tarde postas à prova e contestadas, mas foram os primeiros passos de ruptura que provocaria o desmoronamento do edifício medieval conservador.

O ANÁTEMA DOS FUNDAMENTALISTAS CRISTÃOS: UM LOUCO IDIOTA...

Como não poderia deixar de acontecer atraiu para si a ira dos ortodoxos nas palavras de Martinho Lutero: “O louco vai virar toda a ciência da astronomia de cabeça para baixo. Mas como declara o Livro Sagrado, foi ao Sol e não à Terra que Josué mandou parar”. Irritava-o profundamente o fato de Copérnico retirar o Homem do centro de todas as coisas, como representante de Deus na Terra; agora a Terra era apenas um planeta como outro qualquer, deslocada do centro do Universo!

Lutero: "Copérnico era um idiota"
A obra máxima de Copérnico foi publicada no auge das dissenções protestantes na Igreja, durante o Concílio de Trento (1545). Fora tratado como um “astrólogo” idiota pelos luteranos: “Tem-se dado ouvido a um astrólogo que tenta mostrar que a Terra gira, e não os Céus e o firmamento, o Sol e a Lua... Esse estúpido quer inverter toda a ciência da Astronomia, mas a escritura sacra nos diz (Josué 10:13 – massacre do povo de Gabaón, atual el-Jib, noroeste de Jerusalém, pelos israelitas ou hebreus) que Josué ordenou ao Sol que parasse e não a Terra” (in Pierre Lucie, A gênese do método científico). Por a Terra mover-se pelos céus teria acabado com o dilema teológico do pecado e da iniquidade do Velho Testamento e do “lugar” fixo de Deus em seu trono! Assim, acendia uma pequena luz no horizonte epistemológico, contra a qual cerca de 70 após a publicação do De Revolutionibus a Igreja católica o colocaria no Index dos livros proibidos (1616), entrando na contenda com o protestantismo, como se fosse uma disputa quem era “mais cristão”!!! O lugar da Terra no cosmo era um tema político-ideológico e não uma discussão científica, portanto, não poderia ser alterado, nem ceder um milímetro que fosse.

LUTA CONTRA O OBSCURANTISMO E O REACIONARISMO CRISTÃO

Copérnico, no entanto, fora produto de sua época em que os homens da Renascença postulavam uma mistura entre o antigo e o moderno. Daí seus erros e contradições. Contudo foi o responsável perante a História pela preparação do caminho que conduziu à época dos iluministas do século XVII. Lançou os primeiros alicerces da epistemologia científica, denominada “revolução copernicana” que “deslocou” a Terra e “parou” o Sol. Durante anos Copérnico relutou em publicar sua obra, pois temia fortes represálias, já que deslocar o Mundo (!) era considerado crime e poderia redundar em seu assassinato. A obra copernicana ficou enterrada no Index da Santa Sé até 1835, quando Newton já havia exposto seu entendimento sobre a Gravidade há 151 anos, telescópios e lunetas existiam há 167 e 226 anos respectivamente.

Engels: "Copérnico expulsou
a teologia da Ciência"
Pouco antes de falecer, Copérnico criticava seus detratores: “Provavelmente aparecerão aqueles que, apesar do desconhecimento total das Ciências Matemáticas, julguem-se com o direito de opinar sobre elas, na base de qualquer passagem da Escritura Santa, traduzem mal, distorcendo maliciosamente o verdadeiro sentido, de acordo com seus propósitos, atrevendo-se a condenar ou perseguir a minha Teoria! Estes EU [no original] desprezo completamente...” (dedicatória ao Papa Paulo III, in De Revolutionibus).

F. Engels, no Prefácio à “Dialética da Natureza” rende homenagem a este grande cientista agigantando-o: “O ato revolucionário com que as ciências naturais declararam sua independência e pareceram repetir a ação de Lutero quando este queimou a bula do papa, foi a publicação da obra imortal em que Copérnico, se bem que timidamente e, por assim dizer, em seu leito de morte, vibrou o guante contra a autoridade da Igreja nas questões acerca da natureza. Data de então a emancipação das ciências naturais relativamente à teologia, embora a luta por alguns protestos recíprocos se prolongue até os nossos dias e, em certas consciências, está muito longe ainda de ter terminado. Mas a partir daí operou-se, a passos agigantados, o desenvolvimento da ciência, e pode-se dizer que esse desenvolvimento se intensificou proporcionalmente ao quadrado da distância (no tempo) que o separa de seu ponto de partida”. Disse Engels, que Copérnico teve o mérito de “expulsar” a teologia da ciência e abrir as porteiras das veredas para a futuros cientistas: de Newton a Einstein, até a comprovação das teses das ondas gravitacionais há poucos dias divulgada. Aqui as perspectivas são infinitas, ainda mais se sob um novo modo de produção, o Socialismo.