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s prévias presidenciais norte-americanas deste ano tem
chamado atenção pelo fato de candidaturas pouco convencionais terem surgido
praticamente do nada; mais especificamente, Donald Trump de um lado e Bernie
Sanders por outro, ambos eclipsando figuras conhecidas. Destaca-se, entretanto,
a primeira não tanto por sua “excentricidade” ou pelos aspectos boçais, mas por
indicar aonde trilha a política do imperialismo ianque ao partir em secções a
sua própria carne. Com Trump, estaríamos defronte a um candidato “anti-establishment”
como a opinião pública burguesa (e até da esquerda) quer fazer crer? Ou diante
de um “aventureiro” que não tem nada a perder, ou simplesmente um “louco”? Qual
é o poder de fogo desta nova direita que emerge do campo conservador
republicano?
Oriundo de família bilionária do ramo imobiliário, Trump
adquiriu “popularidade” através de seu reality show (The apprentice, ou O Aprendiz)
no início dos anos 2000. Criou a partir daí o seu marketing pessoal,
disseminando massivamente sua ideia de “eficiência e honestidade” qualidades
necessárias a um empresário bem-sucedido e acima das querelas partidárias.
Talhou desta forma seu estereótipo de candidato independente.
Neste sentido, sua candidatura é, por assim dizer,
multicolorida, haja vista que os últimos 25 anos tem revezado apoios tanto para
republicanos como a democratas. Em 2008, por exemplo, fez grandes doações à
campanha de Hillary Clinton, para combater Obama! Mais recentemente, no final
de fevereiro, recebeu o apoio do “cavaleiro” da Ku Klux Klan, David Duke,
dirigente da denominada organização da supremacia branca e o protestantismo
(conhecidos como WASP).
Questionado por jornalistas, tergiversa: “não sei de nada
sobre David Duke”, ou ainda “nem mesmo sei do que você está falando sobre
supremacistas brancos”. Soma-se a isto, segundo o jornal neonazista The Daily Storner, o líder do Partido
Nazista Norte-americano Rocky Suhayba incorporou-se a sua rede de apoiadores.
Em seu editorial intitulado “Heil Donald Trump”, pede que “faça branca
novamente a América”. Toda a escória racista parece ter se unido em torno da
pré-candidatura de Trump.
A razão destas adesões situa-se naquilo que Trump define
como “programa” de campanha cimentado no apelo nacional-populista, no belicismo
radical, na afirmação do autoritarismo truculento, na defesa da tortura como
método de “confissão” e o incremento da polícia para combater o “terrorismo”.
Evidentemente que tais sínodos da reação evocam a simpatia da direita
pró-militar, ainda mais que se consubstanciam como defensores do protecionismo
econômico e se coloca na condição de anti-Wall Street ou contra a concepção financista
da economia norte-americana. Aí fica a pergunta: trata-se de arrobo ou
determinação dos capitalistas como classe? Ou divisão da mesma?
AS BASES SOCIAIS E POLÍTICAS DO
“TRUMPISMO”
A campanha eleitoral de Trump debutou e solidificou-se
estapeando seus adversários republicanos diretos e toda uma gama de políticos
tradicionais e a elite econômica, qualificados como “fracassados”, em suas
palavras. Um dos mais ricos e “cotáveis” para concorrer em novembro, Jeb Bush,
desistiu no meio do caminho no dia 20 de fevereiro, após a apuração das
primárias na Carolina do Sul ao ser humilhado nas urnas por Trump, atrás de
Marco Rubio e Ted Cruz. Assim, foi conseguindo espetacularizar as modorrentas
primárias. Forjada a imagem de “probo”, ganhou quase que imediatamente o “apoio
popular” que o considera um exemplo “moralizador” da sociedade.
Mas onde estão suas bases?
Elas concentram-se nas camadas de trabalhadores
marginalizados pelo Estado após a detonação da crise econômica de 2008 (os "sem assistência"), nas classes médias decadentes
assoladas pelas drogas e ressentidas com Obama, setores empresariais
desprezados pelos Republicanos vinculados a Wall Street, a direita conservadora
do Tea Party (facção neofascista do Partido Republicano) com Sarah Palin à
cabeça. Triunfou eleitoralmente em estados considerados moderados e laicos: Massachutes, no sul evangélico e conservador do Alabama e Geórgia. Conta, além do mais, com o importante apoio de figuras políticas do Partido Republicano, como o governador de New Jersey, Chris Christie o senador Jeff Sessions. Tem como álibi político sua grande popularidade midiática. Recentemente
recebera apoio de artistas, jogadores de basquete e pugilistas: Clint Eastwood,
Mike Tyson, Dennis Rodman estão neste rol...
Neste interim, o Public
Policy Institute (uma espécie de DataFolha) divulgou uma pesquisa
encomendada pela arquirreacionária “murdochiniana” Fox Entertainment Group, a qual revela que 66% dos apoiadores de
Trump acreditam sumamente que Obama é muçulmano e que não nascera nos EUA (60%)
[http://www.publicpolicypolling.com/main/2015/08/trump-supporters-think-obama-is-a-muslim-born-in-another-country.html].
O caminho vai pouco a pouco sendo carpido em favor do nacional-populismo de
direita.
Houve, em outras palavras, um amplo reordenamento das
primárias americanas com o objetivo de buscar uma ascensão nacional-populismo de
direita, um movimento bastante sui generis
nas hostes do Partido Republicano, descartando-o como possibilidade vitoriosa
da corrida presidencial, dado o seu “baixo nível” e “ignorância” política assim
vistos pelo grande capital.
“YOU’RE FIRED”!!!!2
Então, algo de “novo” se aproxima no front eleitoral
americano?
Talvez, em parte.
Trump, ele mesmo parte integrante do velho e corrompido
sistema bipartidário norte-americano, onde apenas os ricos decidem e triunfam
(um candidato irá gastar em torno de 1 bilhão de dólares em sua campanha!!) e
as candidaturas alternativas nem aspiram por qualquer possibilidade de seguir
adiante no colégio eleitoral. O que vale e sempre vigeu foi o poder do dinheiro,
da eminência plutocrática. O sistema é tão viciado que até o New York Times constatou que apenas 158
famílias ricaças decidem o futuro de outras 120 milhões de famílias no
território americano [http://www.nytimes.com/interactive/2015/10/11/us/politics/2016-presidential-election-super-pac-donors.html].
No final, o capital irá definir quem assumirá a presidência e não há menor
dúvida. De novidade, pode ser a quebra do revezamento Republicanos/Democratas
no assento da Casa Branca, fato que não ocorre desde Franklin Roosevelt quem
cumpriu quatro mandatos (hoje a 22ª Emenda limita o número de mandatos
consecutivos de um mesmo presidente a dois).
Trump, neste contexto político, não foi um raio em céu azul
ou desencadeou uma tempestade sem nuvens! Ele expôs cristalinamente a
existência de um amplo leque de extrema-direita no país e revela a forte
tendência de recrudescimento à fascistização do regime nos EUA e em todo o
mundo: perseguição e assassinatos em massa de imigrantes na Europa, leis de
enquadramento dos movimentos sociais, destruição das conquistas operárias em
todo o mundo, intervenções militares diretas em países contrários ao
establishment, fortalecimento de monopólios coloniais etc.
Apesar desta terrível realidade, o capital financeiro falará
mais alto. Certamente que a oligarquia financeira imperialista ao final das
eleições se defrontará com Trump, se valendo do conhecido bordão cunhado por
este: “você está demitido!”. Você foi longe demais.
O martelo das primárias americanas será batido no próximo dia 15, quando ocorrerá a escolha dos delegados na Flórida (terra natal do guzano Marco Rubio) e Ohio (do governador John Kasich). Caso Trump derrotá-los a fatura estará liquidada...
O martelo das primárias americanas será batido no próximo dia 15, quando ocorrerá a escolha dos delegados na Flórida (terra natal do guzano Marco Rubio) e Ohio (do governador John Kasich). Caso Trump derrotá-los a fatura estará liquidada...
Oligarquia financeira aposta suas fichas em Hillary |
Ao que tudo indica, a oligarquia está apostando suas cartas
em Hillary Clinton, concedendo um terceiro mandato aos Democratas como uma
espécie de compensação pelo fato de Obama ter injetado trilhões de dólares para
salvar o sistema financeiro americano e mundial, além do fato da agressividade
diplomática da “dama de ferro” americana, ser propícia a intimidar adversários.
Eis um estudo bastante interessante a respeito, feito pelo professor Michael
Hudson: “Na sequência imediata da implosão financeira de 2008, os governos dos
EUA e do Reino Unido tornaram-se de facto os donos dos gigantes financeiros
falidos, como o Citibank, a AIG, o Royal Bank da Escócia, e o Banco
Anglo-Irlandês. Através do fornecimento de enormes quantidades de fundos
públicos, estes governos tornaram-se efetivamente os principais investidores
destas instituições em colapso. Se não fosse por razões políticas e/ou
ideológicas, podiam ter mantido facilmente a propriedade legal” [http://nowandfutures.com/large/HowToWriteDownTheDebtsAndRestructureTheFinancialSystem-hudson-michael-berlin-paper.pdf].
A possível vitória de Hillary é a sinalização da continuidade das intervenções
militares em todo o planeta, atendendo os interesses dos neocom, dos falcões do
Pentágono e da indústria bélica. Bernie Sanders, embora um pouco diferente, foi
também um pêndulo para catapultar e referendar Hillary no Partido Democrata, o
que ficou bem claro após a “super-terça”, a qual potencializou Trump e Hillary
para serem nomeados candidatos à presidência dos EUA. Crises sistêmicas e
intervenções militares serão a tônica do futuro governo ianque, quer seja para
eliminar forças produtivas por meio de guerras, como para consolidar sua pilhagem
colonial sobre todos os povos.
Notas:
1- Rupert
Murdoch: Em julho de 2011, Murdoch enfrentou acusações de que suas empresas,
incluindo o jornal News of the World, se utilizavam da prática ilegal de escutas
telefônicas, em telefones fixos e celulares da realeza, de celebridades e até
de cidadãos comuns, para obter notícias, caracterizando violação de privacidade.
Envolveu-se também em diversos casos de subornos e corrupção, e criar inúmeras “barrigas”
jornalísticas.
2-“Você
está demitido!”.