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s eleições municipais deixaram uma marca indelével, apesar
de ser um terreno distorcido do nível de consciência das massas, a enorme
quantidade de votos nulos, brancos e abstenções nos maiores colégios eleitorais
brasileiros, como São Paulo, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Porto Alegre... Contanto,
antes de indicar um elemento de progressividade neste âmbito, revela de forma
acachapante a continuidade da fraude política inaugurada com o “Mensalão” a
partir de 2012; passou pelas tão enaltecidas “jornadas de junho” de 2013 quando
a direita retrógrada mostrou seus dentes raivosos balizada pela mafiosa Rede
Globo. Como nada fora provado contra o PT – o alvo estratégico de Joaquim
Barbosa – nos processos farsas do “mensalão”, apenas uma estúpida tese de “domínio
do fato”, era necessário algo mais profundo e espetacular. Criou-se a operação
“lava jato” desde os bastidores do Departamento de Estado dos EUA, com o claro
fito de criminalizar o PT e o conjunto da esquerda no Brasil em conluio com a
grande mídia corporativa sob o címbalo obscuro de um admirador confesso de
Benito Mussolini, o juizeco e dublê de justiceiro Sérgio Moro. Neste ínterim,
surge a nefasta figura de Eduardo Cunha como presidente da Câmara quem, ao lado
do PSDB, inviabilizou a governabilidade da frente popular. Não que Dilma
dispusesse alguma pauta progressista aos “digníssimos” deputados; ao contrário,
sua agenda era neoliberal e entreguista pari
passu! Cunha aprova a censura nas eleições, com a limitação do tempo de
propaganda e a participação de pequenos partidos de esquerda, restringindo-os a
incríveis seis segundos! Uma lei piorada em relação àquela da ditadura militar,
a odiada “Lei Falcão”...
DESPOLITIZAÇÃO E “DESPARTIDARIZAÇÃO”, DOIS ATRIBUTOS IMANENTES
DO GOLPE INSTITUCIONAL POSTOS EM PRÁTICA
O crescente processo de judicialização da política esteve
voltado para retroceder ainda mais a consciência das massas populares,
incutindo-lhe a ideia perversa de que todos os políticos não prestam, os
partidos são indiscriminadamente corruptos e que, portanto, a sociedade deles
não necessita. Trata-se da antessala do fascismo. E assim foi feito. Nenhum dos
candidatos patronais eleitos ou que foram ao segundo turno fizeram publicidade por seu
partido; muito antes ao contrário, repeliram qualquer vínculo partidário. A
“lei Cunha” visava precisamente isto! Com o fim do financiamento de empresas a
candidatos (até uma porcentagem, impossível de controlar) predominaram os ricos
empresários e os evangélicos, ambos picaretas, os quais obtiveram vitórias no
primeiro turno em todo o território nacional, com raríssimas exceções (Marcelo
Freixo no Rio de Janeiro).
A candidatura de João Dória foi comprada a peso de ouro pelo governo Alckmin... |
Fato mais explícito do embuste marqueteiro é o da capital
paulistana, João Dória. Bancado à mão de ferro pela Opus Dei do governador
Alckmin e a custa da compra milionária dos votos na convenção partidária do
PSDB – o candidato preferido era Serra – Dória alçou-se à prefeitura de São
Paulo sem nunca ter qualquer representatividade social. Desde o início
definiu-se como “apartidário”, um “empresário”, apresentador de TV e “escritor”
de livros de autoajuda neoliberal (uma mediocridade de quinta categoria).
Diferente do que muitos afirmam, o PSDB trafega imerso em crise: Alberto
Goldman, vice-presidente nacional do tucanato, disse à serrista revista Exame que “Doria é uma desgraça para o
PSDB... É um cidadão totalmente desprovido de escrúpulos, teve a sua vitória
nas prévias pelo uso abusivo do poder econômico que tem e, infelizmente, pela
ação do governo do Estado” (http://exame.abril.com.br/brasil/noticias/doria-e-uma-desgraca-para-o-psdb-diz-alberto-goldman).
Denúncias revelam que recebera financiamento de estados governados pelos
tucanos, como o Paraná. Tal condição fez com que o ricaço fosse superado pelos
votos nulos, brancos e abstenções (3.085.187 versus 3.096.304).
...contra seu desafeto Serra |
Com este discurso “palatável” para ludibriar as massas
populares subiu ao segundo turno no Rio de Janeiro o sobrinho do pantagruélico engolidor de
dízimo Edir Macedo, o bispo Marcelo Crivella. Senador pelo PRB jamais se atou
ao complô jurídico-policial que destituiu Dilma da presidência da República e a
qualquer partido, mas sim ao “episcopado” da Igreja Universal, mesmo estando no
governo Paes até o ano passado! Como resultado a sua rejeição foi gigantesca,
os 1.866.621 votos nulos, brancos e abstenções superaram em muito os 842.201 do
bispo. Não por acaso, nesse sentido calamitoso, Carlos Bolsonaro foi o vereador
mais votado para a Câmara dos Vereadores... (todos os dados constam no site do
TSE: http://divulga.tse.jus.br/oficial/index.html).
Por fora, correu a candidatura de Marcelo Freixo,
enfrentando forças contrárias poderosíssimas como a máquina eleitoral do
governo peemedebista, a rede Globo e o reacionarismo contumaz de Crivella, além
do escasso e miserável tempo de propaganda eleitoral (seis segundos!!). Enfim, faz-se jus uma frente eleitoral de
luta contra o fascismo religioso no Rio de Janeiro em defesa da candidatura de
Freixo! O mesmo vale ressaltar a respeito de Edmilson Rodrigues em Belém
estabelecendo o voto crítico no candidato do PSOL, mesmo com os limites de seu
arcabouço programático, mas estará se defrontando contra a poderosa máquina
estatal-eleitoral-golpista do PSDB de Zenaldo Coutinho.
E assim seguiu nas principais capitais do país. Ao lado de
São Paulo e Rio de Janeiro, Belo Horizonte (MG), Porto Alegre (RS), Curitiba
(PR), Belém (PA), Cuiabá (MT), Campo Grande (MS), Salvador (BA) e Aracaju (SE)
também tiveram mais votos em branco, nulos e abstenções do que o primeiro
colocado nas eleições. O candidato mais votado em Belo Horizonte, João Leite
(PSDB) ficou mais conhecido como distribuidor de bíblias a seus adversários
quando jogador de futebol e muito menos por esta última qualificação. Mais um
indício da desinformação política do eleitorado; João Leite atingiu 395.952
eleitores e Alexandre Kalil (PHS – e presidente do Atlético-MG de 2008 a 2014) 314.845,
que somados 710.797 perdem feio para nulos, brancos e abstenções, 741.915! Com
o detalhe que ambos são ligados ao futebol, ao Atlético Mineiro... Uma
“polarização” sem precedentes!
Notório foi o caso em Porto Alegre, onde o atual
vice-prefeito fez campanha na condição de “oposição”, sendo eleito em segundo
lugar para o segundo turno! Sebastião Melo, do PMDB, escondeu acintosamente os
partidos no meio da coligação, isto que tem como tutores os ultraneoliberais
Sartori e Temer! O outro que foi ao segundo turno, Nelson Marchezan Junior, do
PSDB, que há poucos meses estava no governo da prefeitura, também se postou
como “candidato da renovação” sem citar seu partido na campanha! No final, a
soma de votos brancos, nulos e abstenções ficou em 382.535, enquanto o primeiro
lugar de Marchezan contabilizou 213.646. Para se ter uma ideia do pitoresco conservadorismo
gaúcho, mais de dois terços dos vereadores (bancada do cimento e do asfalto) de
Porto Alegre foram reeleitos.
A DEMOCRACIA PARA OS RICOS EMOLDURA O REGIME POLÍTICO
PÓS-GOLPE CONSTITUCIONAL
Os partidos que mais cresceram foram os da direita mais
comezinha minados de corruptos e indiciados pela “justiça”, claro na esteira do
decréscimo de uma esquerda sordidamente criminalizada pelo sistema eleitoral
reacionário. Na ordem PMDB, PSDB, PSD e PP tomaram grande parte dos votos
petistas. De salientar, o PP, base de sustentação do governo usurpador de
Temer, é o partido que mais tem políticos na alça da justiça, são 32
investigados (3 senadores, 18 deputados e 11 ex-deputados), 22 constam na lista
da Odebrecht e 60% da executiva do partido está sob suspeita dos mais diversos
crimes. O PP que possuía 474 prefeituras agora tem 495 (um aumento de 4,4%),
vai desfrutar de um filão orçamentário em torno de 30 bilhões de Reais!!!! Que
maravilha...
O PT, no quesito corrupção, não encabeça a lista, o líder é
o DEM (69 políticos cassados), depois vem o PMDB (66 políticos cassados); segue
o PSDB (com 58 políticos cassados); depois aparece o PP (com 26). O PT tem
apenas 10 políticos cassados (a lista completa no site do TSE: https://www.reddit.com/r/brasil/comments/3yl174/elei%C3%A7%C3%B5es_2016_ranking_da_corrup%C3%A7%C3%A3o_por_partido/).
Conquistar governos e cadeiras no parlamento pode ser a guarita de todos os
políticos burgueses, agora amparados pela justiça, como é o caso do governo de
bandidos protegidos por Temer.
Neste contexto de descalabro político, muitos
“revolucionários” encantados com a avalanche de votos nulos, brancos e
abstenções, embriagam-se no conto de fadas impressionista que se trata de uma
resistência ao regime, o que explicita a contradição daqueles que defendem uma
frente única contra o fascismo aberto com os processos do “mensalão” e da “Lava
Jato”. Ou seja, a consigna de unidade tática funciona apenas como poeira
lançada ao vento...
O capital financeiro, com a ajuda das oligarquias
reacionárias, necessitava alijar o PT e seu programa neoliberal gradualista da
administração do Estado, realinhando as diversas frações da burguesia através
do recrudescimento do regime político via fascistização e judicialização
seletiva da política, cuja finalidade é efetivar a transferência drástica de
renda do trabalhador e do patrimônio nacional para os grandes rentistas
internacionais através de uma agressiva linha ultraneoliberal.
Até uma pequena parcela de “resistência” pode haver – os votos
do PT podem ter migrado para os nulos, brancos e abstenções e que certamente acontecerá uma nova enxurrada destes no segundo turno –, mas representa
muito mais o jogo do próprio regime político imposto através do golpe
parlamentar-jurídico-constitucional que apeou o governo Dilma do Planalto, do
que um claro indício de rebeldia e consciência de amplas as massas. Num
primeiro momento, infelizmente esta é a realidade, uma vez que praticamente não
há movimento operário nas ruas (até a greve bancária é superestrutural) e,
portanto, não existe uma “consciência para si” sem enfrentamento contra o
governo golpista e suas instituições falidas, graças à política de
arrefecimento da luta de classes da direção petista e dos movimentos sociais a
ela vinculados nestes 13 anos de “Lulinha paz e amor”.