By Reggis de Oliveira
& André Fava
& André Fava
F
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oi um
movimento cultural brasileiro surgido em meados da década de 1960, sendo um dos
mais importantes movimentos da música contemporânea cearense. O movimento
começou após surgir no Ceará um grupo de artistas e intelectuais que pensavam,
criavam, recriavam todas as questões que inquietavam o país na época. Entre
seus integrantes existiam filósofos, físicos, químicos, arquitetos, músicos,
poetas, cantores e atores. Eis seus nomes: Ednardo, Manassés, Petrúcio Maia,
Ricardo Bezerra, Cirino, Manassés; letristas Fausto Nilo, Augusto Pontes e
Brandão; as cantoras Téti e Amelinha e na poesia Patativa do Assaré. O artigo
aqui pretende apenas dar uma visão geral deste movimento bastante profícuo que
influenciou geração de músicos e guardou em nossas memórias afetivas canções
inesquecíveis. Para uma pesquisa mais aprofundada, elenco nas referências uma
bibliografia e videografias básicas para consultas.
Encarte do disco "Pessoal do Ceará" |
Contudo, não
se resumia ao regionalismo cultural cearense, havia um alcance mais abrangente
como ressalta Costa (2012): “outros nordestinos parceiros em composições e
gravações: os piauienses Jorge Mello, Clodo, Climério e Clésio; os músicos
Hermeto Paschoal (alagoano), Robertinho de Recife, Naná Vasconcelos e
Dominguinhos (pernambucanos); os letristas Capinam (baiano) e Ferreira Gullar (maranhense);
os compositores pernambucanos Alceu Valença e Geraldo Azevedo e os paraibanos Zé
Ramalho e Vital Farias. De outras regiões, a cantora Nara Leão (capixaba) e os
letristas Abel Silva e Ronaldo Bastos (cariocas)”.
Em 1971 houve
o IV Festival Universitário, e o cantor Belchior ganhou o primeiro lugar do
festival com a com a música “Hora do Almoço”. A vitória do Belchior mostrou ao
Brasil, e ao próprio Ceará, que a música cearense concorria com a nacional.
Anos depois,
ele e Belchior, se reencontraram em São Paulo e foram convidados a fazer um programa
de entrevistas na TV Cultura, chamado “Proposta”, que contava ainda com Ednardo
e Téti. Semanalmente, os quatro eram provocados a compor e apresentar durante
as gravações canções que estivessem ligadas ao assunto abordado com o
entrevistado. Um dos entrevistados do programa foi o produtor musical Walter
Silva, que quis produzir um disco com eles. Assim foi elaborado e construído o
LP Pessoal do Ceará – Meu Corpo Minha Embalagem Todo Gasto na Viagem. Belchior
e Fagner não entraram no disco porque já tinham projetos solos encaminhados. O
disco, não obstante, chegou a incomodar os militares à época em função de seu
conteúdo fortemente libertário: “...Ednardo foi chamado à Polícia Federal,
(...) a frase ‘braços, corpos suados / a praia fazendo amor’ [Terral] seria uma
apologia e incitação à sexualidade”. Foi obrigado a alterar a letra para “falando
amor”, como hoje conhecemos em Terral (https://bit.ly/2Qq9Knk).
Belchior e Fagner não participaram diretamente do movimento, pois já dispunham de contratos comerciais |
O marco deste
movimento aconteceu em 1972, quando a gravadora Continental lançou o belíssimo
e viajante disco “Pessoal do Ceará – Meu
Corpo Minha Embalagem Todo Gasto na Viagem” (http://twixar.me/XzwT),
que introduziu novos compositores cearenses no mercado fonográfico. A ideia de
criar o “Pessoal do Ceará” partiu de Augusto Pontes, tendo como base os
movimentos Tropicália e Clube da Esquina. O resultado final foi graças a
Ednardo, Rodger Rogério e Téti. Pouco depois, outros dois cearenses fizeram
seus LPs: Fagner (“Manera Fru Fru, manera”, 1973) e Belchior (“A palo seco”,
1974). Desta forma, o “Pessoal do Ceará” encontra-se inserido no contexto
sócio-cultural dos movimentos musicais daquela época, marcado pela atmosfera
dos festivais e pelo engajamento político". Em 1974, o “Romance do pavão mysterioso”,
de Ednardo, veio coroar o movimento em sua expressão nacional, sendo tema de
novela em horário nobre da Rede Globo de televisão.
O movimento
iniciou-se entre estudantes da Universidade Federal do Ceará, então centro das
discussões intelectuais de Fortaleza. Os jovens ouviam de forró a bossa nova,
Tropicália e Beatles. Essa mistura de influências começou a resultar em sons
nunca ouvidos no lugar. Tudo com letras inspiradas, que reproduziam o anseio
por mudanças estéticas, muito embora o movimento nunca tenha adquirido uma
centralidade, a exemplo do que acontecia com o “Clube da Esquina” de Milton
Nascimento (COSTA, 2012). Tinha muito mais a ver com uma frente estética do que
um movimento plenamente constituído, haja vista que as diferenças entre os
sujeitos (os agentes no sentido freireano) advindos do movimento cultural
universitário cearense. Fagner, que não fazia parte do grupo, sensibilizado
pela dinâmica dos jovens artistas, foi a ponte para que o Pessoal do Ceará
aportasse no cenário musical em nível nacional, a fim de resgatar a identidade
e tradições populares nordestinas, a tematização autor/lugar de origens e seus
devaneios amorosos, a nostalgia de infância e a incorporação da poesia
concretista adaptada à realidade a qual estavam vinculados regionalmente.
Rodger Rogério disse acerca dos aspectos aqui realçados: “Se era um movimento
eu não sei, mas era uma movimentação muito livre e à vontade. A gente queria
era cantar e não tinha ideia de mercado” (RESISTÊNCIA E REINVENÇÃO, 2017). O
nome, Pessoal do Ceará, surgiu ao acaso: “Em uma das primeiras entrevistas o
repórter não conseguiu lembrar o nome de nós todos e assim começou a nos chamar
de pessoal do Ceará e a gravadora resolveu usar” (idem).
O disco de lançamento do "Pessoal do Ceará" |
O “Pessoal
do Ceará” não era um conjunto vocal, era um grupo de mensageiros onde cada
integrante passava a sua mensagem, da sua forma. Antes de tudo, em meados da
década de 60, a repressão da ditadura militar fomentava a turma de artistas que
circulavam na Faculdade de Arquitetura e Bar do Anísio, em Fortaleza. A
resposta para a pouca liberdade e tempos de tortura foi a arte, a música, a
poesia, o teatro, as ramificações onde a alma descreve e liberta do calabouço
do sistema que tentava desesperadamente calar os gritos revolucionários que
escapavam da censura. O caldeirão multicultural impulsionou do “Pessoal do
Ceará”. O mar do Mucuripe, na Beira Mar de Fortaleza, inspirou a safra
artística que arrumava espaço em meio a repressão” (MOVIMENTO). Em 1979 o grupo
- ou o Pessoal! - tentou se reagrupar no “Massafeira Livre”, show que ocorreria
no Teatro José de Alencar e posteriormente registrado num disco duplo.(https://url.gratis/x2FyY).
Surgiam
harmonicamente maracatus, toadas, sertanejos, rocks e canções psicodélicas de
vários compositores locais. Nosso trabalho foi todo feito com o mesmo amor e
carinho como se tecem os lindos bordados que esta capa estampa, apresentava o
texto do disco. A música Terral resumia o movimento: Eu sou do luxo da aldeia /
Eu sou do Ceará.
Referência
bibliográficas:
DA
COSTA, Nelson Barros. Cordas vocais de aço – a música cearense da década de 70.
2012 http://www.repositorio.ufc.br/bitstream/riufc/31818/1/2012_eve_nbcosta.pdf
DE
CASTRO, Wagner José Silva. No tom da canção cearense: do rádio e TV, dos lares
e bares na era dos festivais (1963-1979). Fortaleza, 2009 http://repositorio.ufc.br/handle/riufc/3389.
Disco
PESSOAL DO CEARÁ – Meu Corpo Minha Embalagem Todo Gasto na Viagem. https://www.youtube.com/watch?v=qPUfpBKnl0Y
MOVIMENTO.
Pessoal do Ceará que incomodou e encantou o Brasil. 2017. https://jangada.online/cultura/musica/pessoal-do-ceara-que-incomodou-e-encantou-o-brasil/
PONTES,
Augusto. Massafeira. Coordenação musical Rodger Rogério, Petrúcio Maia e Stélio
Valle. Direção artística Ednardo. https://www.youtube.com/watch?v=HwZdLdgLCHg
Resistência
e Reinvenção do “Pessoal do Ceará” na Bienal da UNE. 2017. https://une.org.br/noticias/resistencia-e-reinvencao-do-pessoal-do-ceara-na-bienal-da-une/
TERRAL,
videoclipe. https://www.youtube.com/watch?v=iHkGHEPUt14
https://www.youtube.com/watch?v=iHkGHEPUt14
ANEXOS
I) Disco Pessoal do
Ceará – Meu Corpo Minha Embalagem Todo Gasto na Viagem
Lado
A
1.
Ingazeiras (Ednardo ) – voz: Ednardo
2.
Terral (Ednardo ) – voz: Ednardo
3.
Cavalo Ferro (Fagner/Ricardo Bezerra) – voz: Ednardo, Tétty e Rodger
4.
Curta-metragem (Rodger Rogério/Dedé) – voz: Tétty
5.
Falando da vida (Rodger Rogério/Dedé) – voz: Rodger Rogério
6.
Dono dos teus olhos (Humberto Teixeira) – voz: Tétty
Lado
B
1.
Palmas para dar ibope (Ednardo/Tânia Araújo) – voz: Ednardo
2.
Beira-mar (Ednardo) – voz: Ednardo
3.
Susto (Rodger Rogério) – voz: Rodger Rogério
4.
A mala (Rodger Rogério/Augusto Pontes) – voz: Tétty
II) Massafeira
Disco
1
1.
Aurora (Ednardo / Belchior) Intérpretes: Ednardo e Belchior
2.
Como as primeiras chuvas do caju (Ângela Linhares/Ricardo Bezerra) Intérprete:
Ângela Linhares
3.
Pé de Espinho (Rogério / Stone / Pinoquio) Intérpretes: Régis e Rogério
4.
Viravento (Vicente Lopes) Intérprete: Vicente Lopes
5.
Aviso aos navegantes (Lúcio Ricardo) Intérprete: Lúcio Ricardo
6.
O que foi que você viu ? (Stélio Valle /Chico Pio / Nertan Alencar) Intérprete:
Chico Pio
7.
Brejo (Régis / Rogério / Ednardo) Intérprete: Régis
8.
Atalaia (Ferreirinha / Graco / Caio Sílvio) Intérprete: Ferreirinha
9.
Frio da Serra (Petrúcio Maia / Brandão) Intérpretes: Ednardo, Fagner e Marta
Lopes
10.
Isopor (Wagner Costa) Intérprete: Wagner Costa
11.
Buenos Aires - Citroen (Sérgio Pinheiro / Stélio Valle) Intérprete: Sérgio
Pinheiro
12.
Senhor Doutor (Patativa do Assaré) Intérprete: Patativa do Assaré
Disco
2
1.
O Sol é que é o quente (Alano Freitas) Intérpretes: Ednardo e Ana Fonteles
2.
Em cada tela uma história (Lúcio Ricardo) Intérprete: Lúcio Ricardo
3.
Cor de Sonho (Mona Gadelha) Intérprete: Mona Gadelha
4.
Vento Rei (Zé Maia / Calé Alencar) Intérprete: Calé Alencar
5.
O Rei (Tânia Cabral) Intérpretes: Teti e Tânia Cabral
6.
Jardim do Olhar (Fausto Nilo / Stélio Valle) Intérpretes: Coro Massafeira
7.
O Sol Acordou (Ednardo) Intérprete: Ednardo
8.
Estradeiro (Rogério Soares) Intérprete: Rogério Soares
9.
Pelos Cantos (Graco) Intérprete: Graco
10.
Não haverá mais um dia (Pachelli Jamacarú) Intérprete: Pachelli Jamacarú
11.
Último raio de sol (Rodger Rogério / Clodo / Fausto Nilo) Intérpretes: Ednardo
e Teti
12.
Reisado (Graco / Stélio Valle / Augusto Pontes) Intérprete: Ednardo