domingo, 26 de dezembro de 2021

RESENHA: Olhe para cima, não tem onde se esconder, negacionistas vocês são o fim da Humanidade!

“Não olhe para cima”, pois algo muito, muito severo pode acontecer! É o que anuncia o diretor Adam McKay. A Humanidade pode ser extinta em seis meses. E você pergunta: que Humanidade é essa em que vivemos? Para quê serve o conhecimento científico até hoje alcançado? As nossas estruturas políticas, em particular a classe dominante e o poder dela imanente, estão preparadas para encarar o inesperado? O tão propalado mercado e seus embusteiros higth tech que tudo vê e determina nas consciências dos indivíduos, formando um “ideal” coletivo, estaria interessado em salvar o mundo de uma hecatombe? Generais corruptos e medíocres preocupados em vender bagatelas. O papel da indústria tecnológica, a inteligência artificial e seus algoritmos têm destaque na essência nesta intrigante trama.

Estas são apenas umas perguntas dentre as miríades que poderíamos elaborar enquanto e depois que assistimos ao filme da Netflix, “Não olhe para cima”. O drama que aparenta ser mais um clichês de ficção científica, adentra numa seara bem distinta: o fim a que se destina a Humanidade e a oposição entre ciência e política burguesa, a qual se converteu na luta contra os negacionistas. Assume um tom quase que beirando a comédia/sátira até a primeira metade do longo filme. Contudo, vai se tornando algo incomodo para quem o assiste. Este certamente é um recurso para demonstrar com muito deboche e ironia como os detentores do poder reagem perante uma ameaça iminente que não esteja sob seus domínios estruturantes e ideológicos.

O que poderia ser uma peça orientada para o gosto da despolitização, típica do nefasto período trumpista, cuja presidente dos EUA retratada no filme é uma paródia ao ex-presidente negacionista, ao ridicularizar a dita classe política e seus interesses eleitoreiros, o filme adota o recurso da mobilização popular – claro dentro das concepções próprias da indústria que produziu o filme! - perante o imobilismo irritante do poder executivo (dos Estados Unidos, é claro!). Atenção para o filho da presidente: um imbecil inútil que dita as regras de governo (coincidência?). Com personagens desta envergadura (não tão caricaturais) dá vontade de torcer para o cometa perante os negacionistas encardidos e ideológicos...

UMA CRÍTICA AO STABLISHMENT NEGACIONISTA

Neste mesmo caminho, a mídia corporativa, concomitante, é encarada em toda sua futilidade e programada para entreter idiotas perfeitos, dominada até a cabeça pelos interesses do mercado que, no caso específico, é a cada vez mais “sofisticada” indústria da informação, ou seja, a que produz celulares, agora podendo sentir o que as pessoas estão sentindo: alegria, tristeza, medo. Canal estúpido de TV conectado com os celulares… Tudo nas mãos de um magnata planetário, quem tudo faz, quem tudo decide, inclusive dá ordens ao presidente dos EUA! Ou seja, o capitalismo não apresenta soluções, mas apenas destruição e não aponta para um futuro melhor.

No entanto, há neste ínterim, cientistas desesperados em divulgar que uma tragédia de proporções épicas se aproxima do planeta Terra. Ninguém lhes dá ouvidos; ao contrário são motivos de chacotas, de “memes” ridicularizando-os como malucos e, no caso de sua orientanda, mulher que o acompanha na tese, é tomada como surtada. De tão indignados com o descaso que o personagem principal, um astrônomo na pele de Leonardo di Capprio, escreve: o que defendo “o nome é ‘método científico’, e o que criou o computador em que você digita suas teorias conspiratórias imbecis”.

Não se preocupem! Disse o deus mercado. Temos a solução!!! Vamos ganhar dinheiro com a hecatombe, com a colaboração evidentemente do governo americano e de outros mundo afora. Ops! Espere! Algo pode dar muito errado!

Diante disso, a classe dominante cria seus (pesudo)heróis (um fracassado militar supremacista branco) que beira o ridículo, mobilizar as massas populares para que a presidente dos EUA ganhe as eleições legislativas e a indicação na Suprema Corte (tem algo de conhecido nisto tudo!!). Enquanto isso o perigo cada vez mais paira sobre as cabeças da população mundial. Mas o que importa é ganhar dinheiro… A nação que se opusesse ao projeto do deus mercado (uma espécie de Bill Gates) que tudo controla, seria destruída, dando a dimensão exata, embora metafórica, do que representa o imperialismo no mundo atual.

PARA PENSAR O FUTURO DA HUMANIDADE

Nas mobilizações populares uma canção no filme afirma categoricamente: “Deixe de ser pau no cu e acorde/Dê ouvidos aos cientistas qualificados/a gente deu mancada/fodeu com tudo mesmo” contrapondo-se ao que fora imposto de cima para baixo ao povo.

Enfim, o filme é uma boa oportunidade para refletirmos acerca da sociedade em que vivemos, suas prédicas, costumes e imposições mercadológicas, bem como a que interesses vigoram regimes políticos fascistizantes (como o trumpismo e o bolsonarismo). Ao longo da película, não é de estranhar um certo desconforto do espectador com o oportunismo, inação e incompetência do poder instaurado e de seus lobbistas econômicos. A Ciência, fez o que pode para impedir o pior. Não levar em conta o que dizem os estudiosos pode ser catastrófico para a Humanidade. A crítica em geral vem detonando o filme, colocando-o como uma produção baixa e retrógrada. O que é, na verdade, uma defesa do stablishment mundial, da mídia e do munda da política burguesa. É, ao contrário, um belo filme, inteligente e instigante, muito atual, embora feito antes da pandemia. As coincidências, neste sentido, são notáveis, quase em tom profético!

Faço uma advertência muito importante: o filme não acaba quando termina!!! Assista até que a tela se feche para que tenha o desfrute do saber quem governará o mundo futuro (uma das teses mais importantes apresentadas em plena conexão com a realidade atual). Lembre, a curiosidade é a chama do conhecimento! Vamos olhar para cima, sim e sempre!!

#NÃOOLHEPARACIMA