sábado, 8 de outubro de 2022

PRIMEIRO TURNO ELEIÇÕES/2022: “vitória de pirro” de Lula perante rede de desinformação articulada pelo bolsonarismo

 O ex-presidente Lula obteve a vitória neste pleito diante do atual mandatário da cadeira presidencial. No entanto, trata-se de uma vitória de pirro, pois como contraponto houve uma impregnação no Congresso Nacional com o que há de mais abjeto e asqueroso na política do país. Escroques de todo matiz foram eleitos de forma avassaladora para o Senado e Câmara dos Deputados. Enquanto que a esquerda avançou em números, porém continua minoritária. A perspectiva para o segundo turno é uma possível vitória do candidato petista, mas agora totalmente refém de um Senado e Câmara reacionárias, o que já vinha sendo apontado desde as eleições de 2014, ou seja, um amplo giro à direita do eleitorado, situação que permitiu abrir a caixa de pandora do fascismo e da extrema-direita, cujo desfecho fora o golpe institucional (com STF e tudo) de 2016, na usurpação do poder pelo vampiro Temer, o porta-estandarte do bolsonarismo. Mas, quais as causas do avanço da direita, quando todos imaginavam vitória dos progressistas em primeiro turno?

Alguns números podem iluminar a questão: dos 27 senadores eleitos pelo menos 20 ou são bolsonaristas ou têm afinidades; 5 ex-ministros e um ex-secretário do atual governo federal também vão compor cadeiras no Senado; o vice-presidente Mourão segue este modelo; sem esquecer que o “Centrão” obteve porcentagem importante na configuração da casa. As peças mais escrotas e desprovida de capacidade política mais elaborada surgem como espectros de um futuro nada promissor: Sérgio Moro, Damares Alves, Marcos Pontes, Rogério Marinho, Teresa Cristina, o pseudopastor Magno Malta. Só para citar os piores… 

Na Câmara dos Deputados, o PL tem 99 cadeiras num universo de 513 congressistas; o União Brasil (Centrão) elegeu 59 deputados federais; o PP fez 47 cadeiras, MDB e PSD formaram 42 e o Republicanos 41. No polo oposto, a esquerda através da Federação Brasil da Esperança (PT, PCdoB e PV) formará a segunda maior bancada, com 80 parlamentares. Mesmo elevando sua bancada, a esquerda sempre será vencida ou pelo conservadorismo ou pelo reacionarismo escancarado da ala bolsonarista. Assim, PL, PP e Republicanos em nível geral, têm 187 deputados e 23 senadores; enquanto que a esquerda possuí 125 e 13, respectivamente.

A CRENÇA NA “LISURA” DA CAMPANHA ELEITORAL

Um dos vários fatores que levaram à ascensão do reacionarismo ao poder de forma avassaladora foi o PT e seus aliados terem acreditado piamente na “justiça” eleitoral e ter aceito acriticamente a pauta imposta pela mídia corporativa.

Desde o início a métrica discursiva do bolsonarismo esteve conduzindo os “debates”, por meio da difusão de mentiras e deturpações grosseiras da realidade brasileira, a fim de conquistar sua base de sustentação política: as igrejas neopentecostais, a classe média iletrada anti-PT, os rentistas da Faria Lima e o agronegócio vinculado a variações de um anarco-capitalismo.

Fluíram às miríades as chamadas fakenews, sobre as quais o TSE pouco ou nada atuou em sua contenção. A proibição ficara restrita a uma intensa campanha de marketing político, muito aquém da rede de desinformação bolsonarista, ao que podemos caracterizar como a “hermenêutica” anti-verdade, anticrítica, anti-analítica introduzida em grupos de “whatsapp”.

O TSE não tem como — nem almeja — adentrar no campo das relações privadas dos eleitores para coibir falsificações. A imensa rede de falsificações profissionalizou-se e banalizou-se: “Nefasto em 98% dos conteúdos, que misturam mentiras e uso de Deus em causa própria, o bolsonarismo montou uma rede de comunicação para chegar aos grotões do Brasil mais robusta do que a soma de todas as mídias hegemônicas que, sabemos, sempre tiveram o seu lado, que não é o da democracia. Essa rede se ‘profissionalizou’ de 2018 para cá.” [https://www.viomundo.com.br/politica/elson-faxina-alerta-as-pesquisas-nao-erraram-nem-houve-voto-envergonhado-o-que-mudou-o-voto-de-6-dos-brasileiros-foi-a-rede-de-mentiras-bolsonarista.html]

A ineficácia proposita do controle sobre as fakenews ficou patente nos debates ao vivo na Tv, sem que houvesse qualquer freio às bárbaras mentiras levantadas pela extrema-direita, tais como a dita “ideologia de gênero”, “fim das igrejas por parte de um futuro governo Lula”, “implantação do comunismo”, “fraude das urnas eletrônicas”, a repetição ao extremo de que no atual governo não há corrupção — cujo método de repetir uma mentira às centenas acaba virando “verdade”. Só a participação de um “padre” farsante sem qualquer representatividade social é o melhor exemplo de permissividade criminosa da justiça eleitoral e da mídia para desfechar ataque à candidatura de Lula. A tônica destes pseudodebates foi a calúnia, a desinformação, tomadas como atrativos para alimentar os índices de audiência e os bolsos dos patrocinadores (da Globo) e que contribuiu para transferir parte dos votos dos eleitores de Simone Tebet e de Ciro Gomes para o candidato à reeleição.

Lula, durante quase toda a campanha atuou na defensiva diante do disparo em massa de mensagens falsas por todos os rincões do país às vésperas do pleito nacional. Uma única origem espalhou estas mensagens em poucos minutos para uma extensa rede de comunicação e mesmo que o TSE embargue, a “informação” já viralizou como verdade para imensa população fascista ou não, simplesmente desinformada.

Enfim, a estratégia eleitoral da direita dirigida pelos órgãos de inteligência das FFAA fundamenta-se na criação de uma onda de desinformação com vistas a aumentar a rejeição de Lula e tomar a religião como um produto a ser vendida para o eleitor (consumidor), fator decisivo no incremento de voto para o genocida de plantão no Palácio do Planalto. A professora Maria Fernanda Barros alerta-nos que “A religião está mais à frente da discussão pública e os valores religiosos estão determinando mais, dando mais forma a como a sociedade se comporta” [https://jornal.usp.br/universidade/monitoramento-das-redes-mostra-como-valores-religiosos-influenciam-a-politica-no-brasil/], e por isso tem assumido status de programa de governo, indícios cada vez mais evidentes da época reacionária na qual vivemos e traça futuros nefastos.

O “ERRO” DAS PESQUISAS ELEITORAIS COMO BODE-EXPIATÓRIO

Tal qual os debates televisivos, as ditas “pesquisas eleitorais” tem basicamente duas finalidades: em primeiro lugar encher as burras dos jornalões com a divulgação como furos de reportagem; em segundo, de viés político, induzir o eleitorado ao erro. Isto porque a metodologia aplicada está em seu âmago errada, pois desconsidera a possibilidade da abstenção do eleitor, leva em conta apenas os “votos válidos”. Lembrando que em 2018 o grande vencedor nas eleições foi a abstenção (21,3% - 30 milhões de eleitores aproximadamente, 11 milhões votaram nulo ou em branco), graças a qual elevou um energúmeno à condição de “presidente” do país.

Nesta eleição presidencial os índices estiveram bem próximos da de 2018: foram 32.770.982 de abstenções, totalizando 20% do eleitorado; 3.487.874 foram nulos, perfazendo 2,8% e 1.964.779 completaram os votos em branco (1,59%). Pode-se afirmar que a abstenção é um forte aliando do bolsonarismo, pois é uma parcela da população desencantada com o processo eleitoral e desiludida com a política burguesa tradicional, fato que prejudicou Lula. Por outro lado, o eleitor bolsonarista praticamente não se abstém porque além de ter uma renda maior, participa e se articula em extensas redes de comunicações sociais, oriundas dos desejos da classe média anti-PT.

A ascensão da extrema-direita não se deve apenas a um erro das pesquisas, mas revela quão nefasta é a rede de desinformação arquitetada desde as eleições de 2014, aperfeiçoada em 2018 e agora em escala industrial. Foi esta rede imensurável de mentiras que mudou o cenário esperado de boa parte do eleitorado que se definiu pelo energúmeno. A mesma dinâmica, infelizmente, está se configurando para o segundo turno. O PT de Lula, parece que ainda não se convenceu sobre esta questão crucial, por isso sua postura defensiva durante toda a campanha eleitoral, o que somente credita vantagens para seu oponente direto.

No âmago deste contexto, não pode ficar de fora o chamado “orçamento secreto” para o “Centrão” que, graças às imensas quantias de dinheiro público em campanhas não declaradas, gente de nenhuma expressão política conseguiram se eleger com milhões de votos. Assim, “Cada deputado reeleito desse Centrão expandido teve, em média, 42,8 milhões de reais de orçamento secreto. O montante é 470% acima da média recebida pelos deputados reeleitos pela coligação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT, PCdoB, PV, Psol, Rede, PSB, Avante, Solidariedade, Pros) – 7,5 milhões de reais cada”. [https://piaui.folha.uol.com.br/eleicoes-2022/centrao-colhe-os-votos-do-orcamento-secreto] Dados levantados expõem que “10 dos 13 deputados beneficiados com valores acima de R$ 100 milhões ao longo do mandato foram reeleitos com desempenho melhor nas urnas do que em 2018. Em três estados, os campeões de votos também figuram no topo da lista dos mais contemplados com as chamadas emendas de relator, distribuídas a aliados do governo de Jair Bolsonaro sem transparência e critérios claros, em troca de apoio no Congresso.” [https://oglobo.globo.com/politica/eleicoes-2022/noticia/2022/10/dez-dos-treze-deputados-campeoes-do-orcamento-secreto-tiveram-mais-votos-do-que-em-2018.ghtml]

Importante destacar que a ascensão da direita se dá nos marcos de um enorme retrocesso do movimento operário e das lutas de massas, diagnosticado há pelo menos 20 anos, aprofundado durante a época de Lula/Dilma, quando sindicatos praticamente se tornaram organizações cartoriais chapa branca. Situação que não pode ser deixada para trás numa análise séria e aprofundada dos últimos anos no Brasil.

ÚNICA FORMA DE ENFRENTAMENTO COM AS MENTIRAS É GANHAR AS RUAS!

Não há como superar a virtualidade informativa da direita brasileira senão recorrer aos “velhos” métodos de intervenção: que o movimento de massas ganhe as ruas em oposição à generalização do senso comum e dos aspectos tendenciais de uma “ditadura teocrática”, o que na verdade é a consubstanciação do capital na religião (ou vice-versa), cuja expressão mais acabada seria o anarco-capitalismo completamente antitrabalhador. Estamos diante da barbárie e da perspectiva de precarização ainda mais grave do mundo do trabalho. Os recém-eleitos irão aprofundar com ainda mais profusão os ataques à classe trabalhadora. Mesmo em época eleitoral, faz-se necessário adentrar pelas ruas em todos os rincões do país, comícios e manifestações contra a política de destruição do bolsonarismo e partir imediatamente para a ofensiva. Mobilização esta deverá ser permanente, mesmo sob o possível governo Lula, posto que este estará atuando como refém do reacionário Congresso Nacional e a naturalização dos escândalos da extrema-direita.