quinta-feira, 12 de outubro de 2023

PALESTINA versus ISRAEL: Não é guerra civil, mas um povo em defesa de sua libertação, da vida, após quase cem anos de colonialismo e extermínio étnico

É completamente falsa a cobertura que a mídia corporativa pró-Estados Unidos vem fazendo acerca da chamada “guerra” entre o estado nazi-sionista1 de Israel e o Hamasi. Antes de tudo, é preciso afirmar com contundência que Israel surgiu com a condescendência política das maiores potências econômicas em 1947-1948, criando facilidades para que o movimento sionista ocupasse o território palestino (divisão arbitrária do Oriente Médio). A resistência árabe foi ferrenha, o que provocou a ira nos futuros enclavistas sob a proteção da ONU: colocaram em prática uma verdadeira carnificina, a tragédia conhecida como Nakba (projeto colonialista elaborado pelos sionistas desde finais do século XIX), quando mais de 500 aldeias palestinas foram varridas do mapa, provocando a fuga em massa da população civil para a Cisjordânia, Gaza e países limítrofes, criando campos de refugiados (algo muito similar aos campos de concentração nazistas). À época árabes palestinos somavam 1,3 milhões, enquanto os judeus não passavam de 600 milii, ambos conviviam sem maiores problemas até meados do século XIX, dentro da Palestina.

Sob a falsa justificativa bíblica-ideológica “uma terra sem povo a um povo sem terra”, como ideal do movimento sionista, começa a ocupação e subjugação EUA/Europa/burocracia soviética do povo palestino. Sim, havia povo nesta terra, que nela trabalhava e lhe dava o sustento, simplesmente viviam. No correr dos anos o colonialismo foi-lhe tomando seus recursos básicos de vida, até mesmo a água e as terras férteis através de desapropriações e expulsões. Roubo com a aquiescência primeiramente da Inglaterra e depois dos Estados Unidos.

ENCLAVE NAZI-SIONISTA DE ISRAEL COMO ESTRATÉGIA MILITAR DOS EUA NO ORIENTE MÉDIO

Nakba
No centro da geopolítica, de domínio econômico e militar do planeta, estabelecer uma base militar estratégica que controlasse a região rica em petróleo que é o Oriente Médio. Para as potências imperialistas (EUA, França, Alemanha, Inglaterra) era necessário “viabilizar” este domínio militar na região, as quais criaram grupos paramilitares (Irgun – aportado pela França e o Haganahque sustentado pela Inglaterra) difundiam terror e massacres contra os árabes palestinos, o que reundou durante os trágicos processos em limpeza étnica da população originária palestina. O Irguni, por exemplo, exterminou mais de 100 palestinos, entre os quais, idosos, crianças e mulheres em uma única ação no vilarejo de Deir Yassin. Em seis meses de cerco e terror contra a população, cerca de 500 vilarejos foram varridos do mapa, 20 mil palestinos foram assassinados e 800 mil foram expulsos de suas terras. Assim foi o nascituro do Estado de Israel sob terror e extermínio étnico: “muitas das pessoas massacradas – desde as que foram amarradas às árvores e queimadas até à morte, até às que foram enfileiradas contra uma parede e alvejadas por submetralhadoras – eram mulheres, crianças e idosos.”ii

ISRAEL, UM ESTADO PARIDO PELO TERRORISMO DAS GRANDES POTÊNCIAS IMPERIALISTAS

Só para termos uma ideia de quão brutal fora a criação do enclave de Israel: “os velhos morrerão e os jovens vão esquecer”, disse o primeiro-ministro sionista Ben Gurion em frente a um campo de refugiados palestinos à época.

A selvageria sionista segue cada vez mais brutal em sua guerra de ocupação e extermínio de gerações inteiras. Após a enorme resistência dos povos árabes, a Primeira Guerra Árabe-Israelense, a qual fora apoiada por Egito, Líbano, Síria e Transjordânia (Jordânia) contra o Estado de Israel, este apoiado militarmente pelos EUA. Com o armistício (derrota) das forças árabes o território palestino foi sendo ocupado de forma ainda mais drástica e violenta no contexto das sangrentas guerras entre Ocidente e Oriente Médio. Em 1956 outra guerra eclode sobre a região, com a ascendência de Nasser no Egito em razão da nacionalização do canal de Suez. Israel invade o Egito sob a logística de França e Reino Unido, alimentando ainda mais as escaramuças bélicas na região.

Onze anos depois, os EUA protegendo o sionismo, provoca uma nova guerra, a dos Seis Dias , em 1967, a que transfigurou completamente o mapa da Palestina e de todo o Oriente Médio, em favor de Israel. “A primeira consequência evidente da guerra diz respeito a território: Israel multiplicou seu tamanho tomando a península do Sinai do Egito e as colinas de Golã da Síria. A Jordânia perdeu a Cisjordânia”i.

Em 1973 deflagra-se nova guerra na região, a de Yom Kippur, envolvendo Israel, Egito e Síria, como consequência do conflito aberto em 1967, após o qual os sionistas cercaram militarmente o canal de Suez (a chamada Linha Bar-Lev), provocando a reação militar de Egito e Síria. EUA e Europa uniram-se para derrotar mais este levante. Sob a mediação (militar) dos EUA, Egito e Síria depõem armas em favor de Israel.

O CONTEÚDO DO MOVIMENTO DE RESISTÊNCIA

Como pudemos constatar até aqui, “Não é uma guerra civil, é um povo se defendendo contra um governo fascista. Não é uma guerra civil ou conflito, é um movimento de libertação lutando por justiça. […] É um povo discriminado lutando por seus direitos. Isso é história”i.

Por isso não é possível aceitar a tese de que a ação do Hamas tenha sigo planejada desde os submundos do Estado Profundo (deep state) que abarca as inteligências dos países imperialistas em conluio com a extrema direita israelense capitaneada por Benjamin Netanyahuii, com a finalidade de extirpar de vez os palestinos da Faixa de Gaza. O objetivo, de fato é exterminá-los, mas trata-se de fake news que o ato do Hamas fora consentido e arquitetado dos bastidores do CIA/Mossad.

Não obstante, trata-se de uma continuidade da ofensiva sionista desde a operação cast led (chumbo fundido) voltada para confiscar as já parcas reservas marítimas de gás natural dos palestinosiii, só que agora com o agravante de não apenas tomar este recurso, mas aniquilar a população: “Israel está prestes a tornar-se um grande exportador de gás e de petróleo, se tudo correr como planejado. À luz da declaração de guerra de Netanyahu contra o povo da Palestina, em 7 de Outubro de 2023, Israel tem a intenção de ocupar a Faixa de Gaza, ao mesmo tempo que desencadeia a expulsão dos palestinos da sua terra natal”iv.

Já na década de 30 do século passado, Trotsky chegava a seguinte conclusão: “o conflito entre judeus e árabes na Palestina assume um caráter cada vez mais trágico e ameaçador. Não acredito que a questão judaica possa ser resolvida dentro da estrutura da podridão do capitalismo e sob o controle do imperialismo britânico”v.

Dessa forma, desde que nasceu, o Estado de Israel edificou-se a partir de um extremo terror de Estado, do ponto de vista político e do colonialismo no plano econômico e do regime de apartheid social, onde os palestinos não são considerados em sua humanidade, mas como entraves à ocupação militar e colonial por parte de seus opressores sionistas da extrema direita a serviço do grande capital monopolista e financeiro.

Foi precisamente contra mais de cem anos — a contar da segunda metade do século XIX quando o movimento sionista (com Theodor Herzl) tramava com a Inglaterra um lugar para que pudessem estabelecer seu domínio, não importando a população local — de status quo de violência histórica que o Hamas se levantou sob demanda de seu povo! Enquanto este artigo estava sendo concluído, Israel começava a bombardear a Faixa de Gaza com bombas de fragmentação de fósforo, proibidas pela Convenção de Genebra…

“bem no alto da primeira página
que não odeio os homens
que eu não agrido ninguém
mas… se me esfomeiam
como a carne de quem me despoja
e cuidado…cuida-te
de minha fome e minha cólera”. (poema palestino, Mahmud Darwich: “Carteira de Identidade”)

Enfim, como escreveu Ghasan Kanafani (1936-1972) – “com sangue nós escrevemos para a Palestina”! São 75 anos de resistência desde a Nakba e a criação do Estado de Israel em 15 de maio de 1948 e o início da limpeza étnica do povo palestino.




1 OBS.: Ao se reportar ao sionismo, de modo algum o analista deve ser confundido com antissemitismo, uma vez que o primeiro é um movimento ideológico de cunho eminentemente classista oriundo de judeus ricos, burgueses: explorar o próximo sem que ele tenha oportunidade de se defender; antissemitismo foi o que propugnavam os nazistas. Antissionista é aquele que se coloca contra a opressão e exploração sionista e luta pelo fim do Estado de apartheid de Israel.


NOTAS:

v - Felicity Arbuthnot. M. Ch. Pesquisa Global, 8 de outubro de 2023.

vi - Leon Trótsky, “Entrevista con corresponsales judíos”, en Trotsky, Sobre la cuestión judía, p.20.

i - Harakat Al-Muqawama Al-Islamiyya ou Movimento de Resistência Islâmica;

ii - Ralph Schoenman’s Hidden History of Sionism, edição em inglês, 1988;