É completamente falsa a cobertura que a mídia corporativa pró-Estados Unidos vem fazendo acerca da chamada “guerra” entre o estado nazi-sionista1 de Israel e o Hamasi. Antes de tudo, é preciso afirmar com contundência que Israel surgiu com a condescendência política das maiores potências econômicas em 1947-1948, criando facilidades para que o movimento sionista ocupasse o território palestino (divisão arbitrária do Oriente Médio). A resistência árabe foi ferrenha, o que provocou a ira nos futuros enclavistas sob a proteção da ONU: colocaram em prática uma verdadeira carnificina, a tragédia conhecida como Nakba (projeto colonialista elaborado pelos sionistas desde finais do século XIX), quando mais de 500 aldeias palestinas foram varridas do mapa, provocando a fuga em massa da população civil para a Cisjordânia, Gaza e países limítrofes, criando campos de refugiados (algo muito similar aos campos de concentração nazistas). À época árabes palestinos somavam 1,3 milhões, enquanto os judeus não passavam de 600 milii, ambos conviviam sem maiores problemas até meados do século XIX, dentro da Palestina.
Sob a falsa justificativa bíblica-ideológica “uma terra sem povo a um povo sem terra”, como ideal do movimento sionista, começa a ocupação e subjugação EUA/Europa/burocracia soviética do povo palestino. Sim, havia povo nesta terra, que nela trabalhava e lhe dava o sustento, simplesmente viviam. No correr dos anos o colonialismo foi-lhe tomando seus recursos básicos de vida, até mesmo a água e as terras férteis através de desapropriações e expulsões. Roubo com a aquiescência primeiramente da Inglaterra e depois dos Estados Unidos.
ENCLAVE NAZI-SIONISTA DE ISRAEL COMO ESTRATÉGIA MILITAR DOS EUA NO ORIENTE MÉDIO
No centro da geopolítica, de domínio econômico e militar do planeta, estabelecer uma base militar estratégica que controlasse a região rica em petróleo que é o Oriente Médio. Para as potências imperialistas (EUA, França, Alemanha, Inglaterra) era necessário “viabilizar” este domínio militar na região, as quais criaram grupos paramilitares (Irgun – aportado pela França e o Haganahque sustentado pela Inglaterra) difundiam terror e massacres contra os árabes palestinos, o que reundou durante os trágicos processos em limpeza étnica da população originária palestina. O Irguni, por exemplo, exterminou mais de 100 palestinos, entre os quais, idosos, crianças e mulheres em uma única ação no vilarejo de Deir Yassin. Em seis meses de cerco e terror contra a população, cerca de 500 vilarejos foram varridos do mapa, 20 mil palestinos foram assassinados e 800 mil foram expulsos de suas terras. Assim foi o nascituro do Estado de Israel sob terror e extermínio étnico: “muitas das pessoas massacradas – desde as que foram amarradas às árvores e queimadas até à morte, até às que foram enfileiradas contra uma parede e alvejadas por submetralhadoras – eram mulheres, crianças e idosos.”iiISRAEL, UM ESTADO PARIDO PELO TERRORISMO DAS GRANDES POTÊNCIAS IMPERIALISTAS
Só para termos uma ideia de quão brutal fora a criação do enclave de Israel: “os velhos morrerão e os jovens vão esquecer”, disse o primeiro-ministro sionista Ben Gurion em frente a um campo de refugiados palestinos à época.
A selvageria sionista segue cada vez mais brutal em sua guerra de ocupação e extermínio de gerações inteiras. Após a enorme resistência dos povos árabes, a Primeira Guerra Árabe-Israelense, a qual fora apoiada por Egito, Líbano, Síria e Transjordânia (Jordânia) contra o Estado de Israel, este apoiado militarmente pelos EUA. Com o armistício (derrota) das forças árabes o território palestino foi sendo ocupado de forma ainda mais drástica e violenta no contexto das sangrentas guerras entre Ocidente e Oriente Médio. Em 1956 outra guerra eclode sobre a região, com a ascendência de Nasser no Egito em razão da nacionalização do canal de Suez. Israel invade o Egito sob a logística de França e Reino Unido, alimentando ainda mais as escaramuças bélicas na região.
O CONTEÚDO DO MOVIMENTO DE RESISTÊNCIA
Como pudemos constatar até aqui, “Não é uma guerra civil, é um povo se defendendo contra um governo fascista. Não é uma guerra civil ou conflito, é um movimento de libertação lutando por justiça. […] É um povo discriminado lutando por seus direitos. Isso é história”i.
Por isso não é possível aceitar a tese de que a ação do Hamas tenha sigo planejada desde os submundos do Estado Profundo (deep state) que abarca as inteligências dos países imperialistas em conluio com a extrema direita israelense capitaneada por Benjamin Netanyahuii, com a finalidade de extirpar de vez os palestinos da Faixa de Gaza. O objetivo, de fato é exterminá-los, mas trata-se de fake news que o ato do Hamas fora consentido e arquitetado dos bastidores do CIA/Mossad.
Não obstante, trata-se de uma continuidade da ofensiva sionista desde a operação cast led (chumbo fundido) voltada para confiscar as já parcas reservas marítimas de gás natural dos palestinosiii, só que agora com o agravante de não apenas tomar este recurso, mas aniquilar a população: “Israel está prestes a tornar-se um grande exportador de gás e de petróleo, se tudo correr como planejado. À luz da declaração de guerra de Netanyahu contra o povo da Palestina, em 7 de Outubro de 2023, Israel tem a intenção de ocupar a Faixa de Gaza, ao mesmo tempo que desencadeia a expulsão dos palestinos da sua terra natal”iv.
Já na década de 30 do século passado, Trotsky chegava a seguinte conclusão: “o conflito entre judeus e árabes na Palestina assume um caráter cada vez mais trágico e ameaçador. Não acredito que a questão judaica possa ser resolvida dentro da estrutura da podridão do capitalismo e sob o controle do imperialismo britânico”v.
Dessa forma, desde que nasceu, o Estado de Israel edificou-se a partir de um extremo terror de Estado, do ponto de vista político e do colonialismo no plano econômico e do regime de apartheid social, onde os palestinos não são considerados em sua humanidade, mas como entraves à ocupação militar e colonial por parte de seus opressores sionistas da extrema direita a serviço do grande capital monopolista e financeiro.
Foi precisamente contra mais de cem anos — a contar da segunda metade do século XIX quando o movimento sionista (com Theodor Herzl) tramava com a Inglaterra um lugar para que pudessem estabelecer seu domínio, não importando a população local — de status quo de violência histórica que o Hamas se levantou sob demanda de seu povo! Enquanto este artigo estava sendo concluído, Israel começava a bombardear a Faixa de Gaza com bombas de fragmentação de fósforo, proibidas pela Convenção de Genebra…
Enfim, como escreveu Ghasan Kanafani (1936-1972) – “com sangue nós escrevemos para a Palestina”! São 75 anos de resistência desde a Nakba e a criação do Estado de Israel em 15 de maio de 1948 e o início da limpeza étnica do povo palestino.
1 OBS.: Ao se reportar ao sionismo, de modo algum o analista deve ser confundido com antissemitismo, uma vez que o primeiro é um movimento ideológico de cunho eminentemente classista oriundo de judeus ricos, burgueses: explorar o próximo sem que ele tenha oportunidade de se defender; antissemitismo foi o que propugnavam os nazistas. Antissionista é aquele que se coloca contra a opressão e exploração sionista e luta pelo fim do Estado de apartheid de Israel.
NOTAS:
i - Os seis dias que já duram 50 anos: a guerra que mudou para sempre o Oriente Médio - BBC News Brasil. Acesso em 12/10/2023.
ii
-
https://www.reddit.com/r/BrasildoB/comments/glayrf/entrevista_completa_
com_ghassan_kanafani/?utm_source=share&utm_medium=web2x&context=3.
Acesso em 12/10/2023.
iii - https://www.globalresearch.ca/is-the-gaza-israel-fighting-a-false-flag-they-let-it-happen-their-objective-is-to-wipe-gaza-off-the-map/5835310. Acesso em 12/10/2023.
iv - https://www.globalresearch.ca/israel-gas-oil-and-trouble-in-the-levant/5362955]. Acesso em 12/10/2023.
v - Felicity Arbuthnot. M. Ch. Pesquisa Global, 8 de outubro de 2023.
vi - Leon Trótsky, “Entrevista con corresponsales judíos”, en Trotsky, Sobre la cuestión judía, p.20.
i - https://www.jewishvirtuallibrary.org/the-altalena-affair. Acesso em 12/10/2023.
ii - https://www.aljazeera.com/news/2023/4/9/the-deir-yassin-massacre-why-it-still-matters-75-years-later. Acesso em 12/10/2023.
i - Harakat Al-Muqawama Al-Islamiyya ou Movimento de Resistência Islâmica;
ii - Ralph Schoenman’s Hidden History of Sionism, edição em inglês, 1988;