SEM SPOILER — Um filme repleto de suspense, quase tirando o fôlego do expectador, com uma trilha sonora impactante — ainda mais se assistido em um system sound 5.1, no qual os sons giram nas seis caixas de som e nos proporciona uma imersão virtual no mundo relatado no filme de sustos e incertezas — assim é “O mundo depois de nós”. Apesar do título em português estar fora de contexto, por não expressar o real conteúdo da película, há muitos elementos a serem observados. Em primeiro lugar, claro, o título em inglês “Leave the World Behind” – deixar o mundo para trás – tem muito mais a ver com a trama e sua profundidade dialógica e estética, que podem passar despercebidas a olhares e ouvidos menos atentos.
Apresenta a direção e o roteiro de Sam Esmail, ao passo que tem a produção do ex-presidente dos EUA Barack Obama e Michelle Obama (ex-primeira dama) entre outros nomes ao lado da Netflix. Prepare-se para experimentar uma a dimensão a qual iremos praticamente participar como observadores, amiúde na condição de protagonista de dúvidas compartilhadas com as personagens!
Diálogo inicial quando uma das falas da personagem principal, Amanda, dará o tom da trama: “Parece que, todo dia, eu só trabalho e nem me dou conta e você vive tenso com o trabalho por causa dos cortes de orçamento” e “eu odeio as pessoas”, e anuncia o que está por vir. O filme divide-se em cinco partes, cada uma em sequência lógica crescente.
Durante todo o filme, se observarmos atentamente, é notória há uma escala imagética: as câmeras têm uma angulação que fazem com que os personagens estejam sempre sendo “observados de fora” por outrem, o que alimenta ainda mais as teorias conspirativas sem que seja necessário explicitá-las, tanto por parte das personagens como do expectador.
Isto para “observar” o cotidiano de duas famílias de classe média alta. Uma delas, apresenta mulher (publicitária) antissocial, rancorosa, fechada para novas oportunidades; um marido (professor) mais compreensível e até certo ponto humanizado, mas paradoxalmente recusa embarca na sanha da antissociabilidade ao recusar ajuda a uma senhora latina perdida no meio da rua. A outra, um sujeito rico com sua filha (ambos negros) à espera da esposa e atua como um elemento “intruso” na primeira família. Insere-se neste meio insólito um vizinho que diante do caos e das incertezas se isola do mundo com uma atitude agressiva, individualista e eminentemente bélica.
Condições que soam como metáfora da desconfiança entre TODOS os seres humanos: marido e mulher, pais e filhos, entre vizinhos, o que coaduna a atual natureza humana, ou seja, o egoísmo exacerbado nas relações, ou antirrelações. Há, não obstante, uma crítica velada ao racismo, uma vez que a mulher branca rejeita inicialmente a família de negros, melhor colocada na escala econômica, na realidade dona da casa.
Mas, além destas essencialidades, o filme demonstra o quanto a humanidade está dependente das tecnologias, o ponto nodal da trama: a afetação na comunicação mundial, a não funcionalidade dos carros autônomos (Tesla), satélites, GPS. Nisto, Clay – marido de Amanda - diz “não sei fazer quase nada sem o meu celular e meu GPS. Sou um inútil!”. Fica perdido rodando a esmo por horas sem saber onde está numa região desconhecida em seu carro. Questionam os produtores do filme: o que seria da humanidade sem a tecnologia?
Eis que fica a pergunta: o que fazer diante de um apagão tecnológico o mundo que deixamos para trás. Então vem a proposta, apelar para o disco de vinil, uma boa conversa entre amigos regada a bebida para conhecer as pessoas em suas almas, se não há serviço de streaming, recorra aos aparelhos analógicos de DVD, mesmo em relação à atual geração que desconhece estes meios!
MANTRA IDEOLÓGICO DO AMERICAN WAY LIFE
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Obama foi o presidente que mais guerras protagonizou em seu mandato |