quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Lenin Morreu

Leon Trotsky            

22 de Janeiro de 1924

Lenin Morreu. Lenin já não existe. As leis obscuras que regulam o funcionamento da circulação arterial puseram termo a essa existência. A arte da medicina viu-se impotente para operar o milagre que dela se esperava apaixonadamente, que dela exigiam milhões de corações.

Quantos homens haverá entre nós que de boa vontade e sem hesitação teriam dado o sangue até à última gota para reanimar, para regenerar o organismo do grande chefe, de Lenin Ilitch, o único, o inimitável? Mas não havia milagre possível, aí onde a ciência era impotente. E Lenin morreu. Estas palavras caiem sobre a nossa consciência de uma maneira terrível, tal como o rochedo gigante cai no mar. Poderá acreditar-se? Poderá aceitar-se?


A consciência dos trabalhadores do mundo inteiro não vai querer admitir este facto, pois o inimigo dispõe ainda de uma força considerável; o caminho a percorrer é longo; a grande tarefa, a maior que jamais foi empreendida na História, não está terminada; pois Lenin é necessário à classe operária mundial, indispensável como talvez jamais alguém o tenha sido na história da humanidade.

O segundo ataque da sua doença, muito mais grave do que o primeiro, durou mais de dez meses. O sistema arterial, segundo a amarga expressão dos médicos, não cessou de "brincar" durante todo esse tempo. Terrível brincadeira em que se jogava a vida de Ilitch. Podíamos esperar uma melhoria e quase que uma cura absoluta, mas também podiamos esperar uma catástrofe. Estávamos todos à espera da convalescença, foi a catástrofe que se produziu. O regulador cerebral da respiração recusou-se a funcionar e apagou o órgão do genial pensamento.

Perdemos Ilitch. O Partido está órfão, a classe operária está órfã. É, acima de tudo, o sentimento que temos ao ouvir a notícia da morte do mestre, do chefe.

Como iremos prosseguir? Encontraremos o caminho? Não iremos perder-nos? Porque Lenin, camaradas, já não se encontra entre nós...

Lenin já não existe, mas temos o leninismo. O que havia de imortal em Lenin - os seus ensinamentos, o seu trabalho, os seus métodos, o seu exemplo - vive em nós, neste Partido que criou, neste primeiro Estado operário à cabeça do qual se encontrou e que ele dirigiu.

Neste momento, os nossos corações estão invadidos por esta dor tão profunda, porque todos nós fomos contemporâneos de Lenin, trabalhámos a seu lado, estudámos na sua escola. O nosso Partido é o leninismo em ação; o nosso Partido é o chefe coletivo dos trabalhadores. Em cada um de nós vive uma parcela de Lenin, o que constitui o melhor de cada um de nós.

Como avançaremos a partir de agora? Com o facho do leninismo na mão. Encontraremos o caminho? Sim, através do pensamento coletivo, da vontade coletiva do Partido, encontrá-lo-emos!

E amanhã, e depois de amanhã, daqui a oito dias, daqui a um mês, interrogar-nos-emos ainda: será possível que Lenin já não exista? Durante longo tempo esta morte parecer-nos-á um capricho da natureza, inverossímil, impossível, monstruoso.

Que este sofrimento cruel que sentimos, que cada um de nós sente no coração ao lembrar-se que Lenin já não existe, seja para nós um aviso diário: lembremo-nos que a nossa responsabilidade é agora muito maior. Sejamos dignos do chefe que nos instruiu!

No sofrimento e no luto, cerremos fileiras, aproximemos os nossos corações, agrupemo-nos mais estreitamente para as novas batalhas!

Camaradas, irmãos, Lenin já não está entre nós. Adeus Ilitch! Adeus, chefe!...


Estação de Tiflis, 22 de Janeiro de 1924.