Concentração dos manifestantes no Largo do Batata, em São Paulo |
A
|
greve geral do dia 28
de abril pode, sem dúvida, ser considerada uma das mais expressivas que o país
presenciou em toda a sua história: centenas de milhares de trabalhadores e
desempregados aderiram nos principais centros produtivos das grandes metrópoles
a uma GREVE ESSENCIALMENTE POLÍTICA!
Por si só, independente do projeto e trajetória de traições das principais
direções do movimento sindicato como a CUT – as quais durante os governos Lula
e Dilma cumpriram o nefasto papel de engessar a ação organizada dos
trabalhadores, atuando como correia de transmissão do Planalto e das mais
reacionárias oligarquias regionais – as massas exploradas demonstraram uma
grande disposição de se enfrentar com a claque de bandidos instaurados no
Planalto e no judiciário. A estratégia petista de colaboração de classes
enfraqueceu substancialmente o movimento operário. Evidentemente que o PT e a
CUT têm imensa responsabilidade com a atual situação política. O primeiro
promoveu o chamado “pacto oligárquico” com o que há de mais podre, fisiológico
e reacionário exposto no tabuleiro da política nacional (clã dos Sarney, Renan
Calheiros, Collor, Maluf, Igreja Universal, PMDB e por aí vai...), que
impreterivelmente no despertar da época de crise se rebelou sem pestanejar em
diáspora de ratos; a segunda atuou durante 14 anos como chapa branca e elemento
de contenção de protestos e lutas, cujo governo petista chegou ao ponto de criminaliza-las
como durante os eventos da Copa do Mundo de 2013-14 como sendo ação de
terroristas. Em consequência, criou a “Lei Antiterrorismo” que vigora até hoje,
com a qual a tucanalha se refestela e baixa a borracha.
Passeatas em Recife e Porto Alegre: 40 mil e 30 mil, respectivamente |
A greve conseguiu paralisar setores estratégicos das grandes
cidades, o transporte público. Não se faz greve geral sem que este setor seja
paralisado à força. Bancos também foram fechados, o comércio funcionou a
meia-boca. Escolas públicas e privadas fecharam suas portas. Houve vários
bloqueios de estradas pelo interior. Calcula-se que mais de 35 milhões
participaram da greve. Pelo conteúdo e pela caracterização social, foi bem
diferente das manifestações de 2013 durante as quais a direita e os fascistas
dominaram contra a esquerda e das de 2015 quando as palavras de ordem grassavam
por “Help! Intervention Miltary Already” e “Somos milhões de Cunhas”. Desta
vez, a classe média ficou em casa, ao invés de bater panela, “bateram os dentes”,
apavorada... Após quase duas décadas, é a primeira vez que o proletariado saiu
às ruas de forma organizada, limitada é verdade, mas cumprindo um papel
fundamental no embate contra as forças retrógradas imperantes nas instituições
brasileiras em repúdio às “reformas” da previdência e trabalhista. Aos poucos a
luta de classes vai ganhando novamente as ruas se batendo com a corja golpista
usurpadora do Planalto empossada e legitimada pelo STF incumbida de jogar o
peso da crise sobre as costas dos explorados, promovendo uma gigantesca
transferência de capital para os bolsos dos especuladores e banqueiros
internacionais.
A repressão foi violenta, a luta de classes será a norma a partir de agora |
Claro, a burguesia, do outro lado da trincheira, estava
preparada, chegando inclusive a invadir sedes de trabalhadores. Em São Paulo a
PM invadiu o Sindicato dos Bancários de forma truculenta para intimidar o
movimento paredista. A mídia mainstream jogava veneno nas mobilizações desde a
véspera, defendendo a repressão contra os “vagabundos”, o que governos
atenderam prontamente. A repressão foi extremamente violenta em todos os
estados. A lumpen-burguesia hegemônica
politicamente no país desfilou pérolas de idiotices, como o prefeito de São
Paulo João Díria, segundo quem, “não se faz greve geral em dia de trabalho”; ou
então o “ministro da justiça” Osmar Serraglio, que descabeladamente (ele é
careca!!) afirmou à Globo serem as mobilizações “pífias”, “não existiram”!
Ainda, o prefeito de Porto Alegre, Nelson Marchezan, o tucano júnior, disse que
quem participava da greve eram membros de “gangues criminosas”...
Assim, num país onde mais de 14 milhões de desempregados e
outros milhões na informalidade encontram-se sem perspectivas de retornar ao
trabalho, cujos postos de trabalho foram extintos, a adesão pode ser
considerada bastante positiva, malgrado alguns setores da esquerda que
consideraram “poucas categorias da produção industrial” participaram. Ora, é no
mínimo uma cegueira ou mesmo estupidez tal consideração, típico de uma análise
de paralaxe sectária... Não obstante,
não podemos cair numa visão idílica das mobilizações, pois há de se romper com
a perspectiva programática institucional de eleições já orientada pelas
direções sindicais e várias organizações da esquerda. Esse é um direcionamento
da luta para um beco sem saída, pois se trata de um acordo com os próprios
golpistas senis que depuseram o governo do PT.
Contudo, o primeiro passo foi dado. Doravante, é necessário
aprofundar as mobilizações em cada local de trabalho, escola ou comunidade,
além é claro, organizar comitês de desempregados, rumo a uma greve geral de 48
horas, para colocar na berlinda a lumpen-burguesia golpista e sua (in)justiça
plutocrática a serviço do capital financeiro internacional.